Era previsível, mas não menos simbólico. A saída de Elon Musk do governo Trump, oficializada no dia 28 de maio, não apenas encerra uma curta e turbulenta experiência de um empresário bilionário na máquina pública, ela expõe, mais uma vez, a “curva maldita” da política: aquele momento inevitável em que promessas e expectativas se chocam com a realidade da governança.
Musk entrou no governo como um símbolo. Um ícone da eficiência privada, do pensamento disruptivo, da aversão à burocracia. Assumiu o comando do chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) prometendo cortar US$ 2 trilhões em gastos federais. Saiu, poucos meses depois, tendo entregado entre US$ 150 e 175 bilhões em economia e carregando um desgaste que contaminou tanto sua imagem quanto os balanços de suas empresas.
Não é a primeira vez, nem será a última, que a política seduz com a promessa de transformação, para depois cobrar com juros e correção monetária o preço do improviso. Musk descobriu que, diferentemente do Vale do Silício, onde se pivotam ideias e se demitem milhares com um clique, o governo exige articulação, previsibilidade e concessões. Quando o Congresso aprovou um pacote fiscal que aumentava os gastos com defesa e ampliava isenções tributárias, Musk reagiu como um CEO traído. Mas ali não era a Tesla. Era Washington.
Trump, pragmático, seguiu seu curso. Musk, indignado, rompeu. Mas sem confrontos frontais, sem reunião de despedida. Apenas uma nota oficial, uma saída silenciosa, mas ruidosa.
Para além da política fiscal, Musk colecionou polêmicas: demissões em massa, centralização de dados de cidadãos, acusações de violações de privacidade. E, mais grave, o gesto ambíguo durante um comício em janeiro, interpretado como uma saudação nazista — fato que o colocou na mira de sanções internacionais e alimentou um debate global sobre sua real postura ideológica.
Nesse ponto, o que era para ser uma revolução da eficiência virou uma tempestade de danos reputacionais. O mercado reagiu. A Tesla despencou 71% em lucros no período em que seu dono tentava reformar o Estado. Só voltou a subir quando Musk anunciou que voltaria a se dedicar “mais integralmente” às suas empresas.
O que fica dessa passagem relâmpago de Musk pelo governo Trump é a evidência de que política não é laboratório. E nem palco para egos fora de controle. É preciso combinar timing, narrativa e resultados. Musk falhou nos três. E ainda saiu menor.
Sua experiência serve de alerta a qualquer outsider — de Washington a Brasília — que ache que governar é apenas aplicar a lógica empresarial à máquina pública. Não é. Porque o Estado não é uma empresa, o povo não é cliente e o Congresso não é diretoria executiva. Quem não entende isso, invariavelmente, bate na curva. A maldita curva da política.
Por: Napoleão Soares