Os resultados finais das Eleições Municipais de 2024 indicam que os partidos de centro-direita partem bem posicionados para as articulações visando ao próximo pleito: o de 2026 para Presidência da República, Senado, Câmara e governos estaduais.
Os partidos que mais têm motivos para comemorar são PSD e MDB, que mais conquistaram prefeituras, incluindo cinco capitais cada. Apesar de oficialmente estarem na base de apoio do governo Lula (PT), inclusive ocupando ministérios, as duas siglas pendem mais para a direita do que para a esquerda. Tanto que estiveram unidas na vitória mais importante desta eleição, a da capital paulista, onde Ricardo Nunes (MDB) levou a melhor sobre Guilherme Boulos (PSol), que era o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com participação tímida na campanha municipal, o presidente petista pode celebrar uma ligeira recuperação de seu partido, que voltará a governar uma capital depois de quase 8 anos: Fortaleza, onde Evandro Leitão venceu (por bem pouco) o bolsonarista André Fernandes (PL). Ao todo, porém, o PT termina a eleição com 252 prefeituras. Bem menos que as 885 do PSD; as 853 do MDB; as 746 do PP; as 583 do União Brasil; as 516 do PL; e as 433 do Republicanos. Veja o ranking (que ainda pode mudar devido a decisões judiciais):
A preferência dos eleitores brasileiros por políticos do campo conservador foi comentada, logo após a divulgação dos resultados, pelo deputado federal André Janones (Podemos-MG), aliado de Lula e crítico cotidiano das estratégias da esquerda. “O Brasil tem uma nova polarização: direita x extrema direita”, escreveu o mineiro no X, antigo Twitter. “Continuem divulgando ações através de site, panfletagem, e falando todes pra uma bolha de alienados soberbos intelectualmente que nem sabem mais o que é povo! Continuem nesse caminho que em 2026 a coça vai ser doída”, completou ele.
Nomes para 2026 ainda são uma incógnita
Apesar da força mostrada pelos partidos de centro-direita no pleito municipal, ainda é difícil projetar os nomes competitivos para a disputa nacional que acontecerá em dois anos. Do lado da esquerda, Lula tem sinalizado que pretende disputar mais uma reeleição, mas o petista completou 79 anos no domingo (27/10) e suas condições de saúde terão de ser levadas em conta para a decisão final. Como opções no campo progressista são falados nomes como o do ministro Fernando Haddad (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do prefeito reeleito do Rio, Eduardo Paes (PSD).
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também tem mostrado disposição para voltar a se candidatar, mas para isso precisaria reverter a ilegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e escapar de possíveis condenações no Supremo Tribunal Federal (STF) em ações nas quais pode ser denunciado em breve, como a da investigação de uma suposta tentativa de golpe de Estado nos eventos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023.
E mesmo que o PL tenha conseguido um resultado positivo no geral, candidatos da ala mais ideológica do partido, mais ligados ao ex-presidente, não foram tão bem. Seus dois ex-ministros que disputaram eleições municipais perderam: o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL), em João Pessoa, e o ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL), que nem foi para o segundo turno em Recife (PE), onde venceu João Campos (PSB), aliado de Lula. Também amargou uma derrota o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem (PL), vencido por Paes no Rio no primeiro turno.
Bolsonaro ainda esteve ausente do palanque da vitória em São Paulo, onde mal foi citado – ao contrário do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é um dos mais cotados para representar a direita na eleição federal, apesar de não ter soltado a mão de Bolsonaro. O prefeito reeleito da capital paulista festejou muito o governador, que chamou de “grande líder”.
Já Bolsonaro passou o dia da eleição em Goiás, onde colheu uma derrota na capital para outro nome que deseja seu lugar no coração dos conservadores: o governador Ronaldo Caiado (União). Em Goiânia, Sandro Mabel (União), apoiado por Caiado (foto em destaque), venceu Fred Rodrigues (PL), o candidato bolsonarista, por 10 pontos de diferença.
Ao celebrar essa vitória, o presidente do partido, Antonio Rueda, deu o tom do discurso da ala da direita que pretende suceder Bolsonaro nas disputas futuras, de que o governador goiano ganhou contra o “extremismo”.
Kassab, o fiel da balança
Pelos números do PSB, fica fácil apontar o nome do presidente da legenda, Gilberto Kassab, como o grande vencedor dessas eleições municipais. Com a força conquistada, o habilidoso político paulista poderá decidir com calma o caminho a trilhar nas próximas eleições. Hoje, ele tem um pé em cada canoa: participa das administrações de Nunes e de Tarcísio em São Paulo, fazendo parte do primeiro escalão do governador, na pasta de Relações Institucionais, e também mantém a sigla como base do governo Lula, o que lhe rendeu três ministérios: Minas e Energia, Agricultura e Pesca.
Apesar de toda essa musculatura política, porém, faltam ao PSD de Kassab nomes competitivos para disputar com força uma eleição ao Palácio do Planalto. Enquanto lida com essa situação, Kassab evita dar pistas sobre que lado pretende escolher daqui a dois anos e sinaliza que quer ter um candidato a presidente, o governador Ratinho Júnior, de Santa Catarina.
Eleições para a presidência de Câmara e Senado são o próximo embate
O caminho dos partidos brasileiros para buscar competitividade em 2026 passa pela eleição do comando de Câmara e Senado para o próximo biênio, que acontece em fevereiro do ano que vem. No caso do Senado, o União Brasil de Davi Alcolumbre já pode computar uma vitória sem percalços.
Na Câmara, porém, a disputa está acirrada, mas todos os favoritos são de centro-direita. Disputam a cadeira de Arthur Lira (PP-AL) o líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB); o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA); e o do PSD, Antonio Brito (BA).
Metrópoles