Última chance para o PT conquistar alguma capital, o segundo turno não trouxe boas notícias para o partido até agora, a menos de uma semana da votação. As pesquisas mostram que a sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está atrás nas quatro cidades em que tem candidatos próprios — além de São Paulo, onde Guilherme Boulos (PSOL) é considerado praticamente um petista. Com exceção de Cuiabá, os correligionários de Lula penam para herdar os votos que foram do presidente na eleição de 2022.
Há quatro anos, o partido ficou sem vencer em capitais pela primeira vez desde que foi fundado. Retomar ao menos uma este ano é considerado um feito de valor simbólico. Além de Cuiabá, o PT disputa em Fortaleza, Natal e Porto Alegre. Em todas elas, os postulantes petistas passaram para o segundo turno já em desvantagem.
Os resultados com mais chances de virada são registrados nas cidades onde o embate é com o PL de Jair Bolsonaro: Fortaleza e Cuiabá. Na maior capital do Nordeste, Evandro Leitão está dois pontos atrás do bolsonarista André Fernandes (PL) — que vem evitando se associar a Bolsonaro na campanha, dada a rejeição ao ex-presidente.
O resultado é de 45% a 43%, segundo a pesquisa Datafolha mais recente. Lula chegou a ir a Fortaleza para tentar impulsionar Leitão, mas a virada ainda não foi captada pelas pesquisas. O candidato tem apenas 70% dos votos que foram do presidente em 2022, enquanto Fernandes abocanha 91% dos bolsonaristas, de acordo com o levantamento.
Leitão também é apoiado pelo governador Elmano de Freitas e pelo ministro da Educação, Camilo Santana, ambos do PT. A disputa em Fortaleza desperta atritos entre o partido e um antigo aliado, o PDT. A sigla do ex-governador Ciro Gomes teve quadros declarando voto em Fernandes, o que levou a críticas do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, presidente licenciado da legenda e principal dirigente trabalhista desde a morte de Leonel Brizola, em 2004.
Atrair os votos que foram no primeiro turno para o prefeito derrotado do PDT, José Sarto — 11,7% — é fundamental para Leitão conseguir embalar na reta final.
Natal e Cuiabá
Também no Nordeste, o partido de Lula fica atrás em Natal, no Rio Grande do Norte. Natália Bonavides tem 39%, contra 45% de Paulinho Freire (União). A petista até encorpou as intenções de voto após o primeiro turno — ficou com 28,4% dos votos válidos nas urnas, e Paulinho, 44%. Mas, a exemplo de Leitão, Bonavides pena para herdar um percentual maior de lulistas: somente 67% declaram voto nela, contra 81% de bolsonaristas que optam pelo adversário.
Como a margem de erro é de três pontos para mais ou para menos, o cenário de intenções de voto configura empate no limite da margem de erro. Se Bonavides estiver com três pontos a mais e Freire, três a menos, eles ficam iguais. A hipótese, no entanto, é remota.
Natal é um exemplo de capital que pertence a um estado comandado pelo PT, mas onde o partido tem dificuldades para eleger prefeito. Se em Fortaleza a sigla já esteve à frente da prefeitura mais de uma vez — foi, inclusive, a primeira capital conquistada pela legenda, em 1985, com Maria Luíza Fontenele — , em solo natalense nunca se consolidou.
Outra capital com diferença apertada, mas na qual o PT também está em segundo, é Cuiabá. Apesar de o Centro-Oeste ser um reduto bolsonarista, Lúdio Cabral (PT), com 41%, tem apenas três pontos a menos que Abilio Brunini (PL). O resultado configura empate técnico, a despeito da desvantagem numérica.
Na capital mato-grossense, a esperança reside numa lógica oposta à aplicada nas cidades nordestinas: é menos investimento no petismo e mais na rejeição ao adversário, e Cabral faz uma campanha em que não reforça tanto a vinculação ao partido e a Lula. Os dados corroboram: num município pouco lulista, o candidato já conta com 84% dos eleitores dele, mais que os 76% de simpáticos a Bolsonaro que escolhem Brunini.
‘Goleada’ no Sul
Se no Nordeste e no Centro-Oeste os resultados são apertados, no Sul o PT vem perdendo de lavada. Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Maria do Rosário aparece com 30% na Quaest da semana passada. Candidato à reeleição, Sebastião Melo (MDB) vai a 52%.
Mesmo com a crise provocada pelas enchentes do primeiro semestre no Rio Grande do Sul, Melo conseguiu se firmar como favorito na eleição, muito por causa da rejeição à candidata petista — repelida por mais da metade da população. Maria do Rosário está em patamar bem inferior aos 53% que Lula teve na capital gaúcha contra Bolsonaro há dois anos.
Assim como Fortaleza, Porto Alegre foi uma importante base municipal do PT. Entre 1988 e 2000, venceu todas as quatro eleições na cidade. De lá para cá, no entanto, perdeu espaço e não voltou a ser bem-sucedido nas urnas.
Barreira em SP
Além das candidaturas próprias, o partido aparece atrás em São Paulo, maior cidade do país, onde Boulos, com a vice petista Marta Suplicy, foi uma grande aposta de Lula, mas atrai hoje meros 65% dos eleitores do presidente, segundo o Datafolha.
Na capital paulista, o candidato da esquerda não consegue passar dos 33% — percentual registrado no Datafolha por duas semanas seguidas, assim como na Quaest de quarta-feira passada. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) até perdeu votos na esteira do apagão que deixou mais de 3 milhões de paulistanos sem energia, mas Boulos não cresceu. O emedebista pontua 51%.
Mesmo não sendo do PT, Boulos entrou na campanha via articulação de Lula, que driblou a recalcitrante objeção de setores do partido a não lançar um nome da própria legenda. O investimento foi não só político, mas também financeiro: somando os dois turnos, o candidato do PSOL recebeu R$ 45 milhões do diretório nacional petista.
O Globo