Não sei a idade da cara leitora e leitor, mas para quem nasceu nos anos 1980 e cresceu para a vida do futebol nos anos 1990, como eu, a situação do São Paulo parece esdrúxula.
Quando descobri o futebol, o tricolor paulista era multicampeão da Libertadores e do Mundial, rico, pioneiro na fisiologia e recuperação de seus jogadores, proprietário do Centro de Treinamento mais impressionante da América do Sul, e do único estádio capaz de receber grandes shows e finais.
Adversários odiavam na mesma medida em que invejavam esse clube que parecia ter tudo.
Outro dia, um vizinho me abordou na porta do prédio. Não costumamos falar de futebol. Eu estava ao telefone. Ele me interpelou, eufórico: SÃO PAULO! SÃO PAULO! Fiquei surpresa. Aconteceu algo que não estou sabendo?
Não. Ele estava celebrando a classificação, nos pênaltis, sobre o Atlético-GO, à final da Copa Sul-Americana.
Fiquei imaginando o que diriam aquelas criancinhas chatas que se infernizavam na porta da escola, lá em 1994, ao imaginar um senhor são-paulino comemorando efusivamente uma vaga na final da segunda divisão da Libertadores.
O que pensariam ao ver o agora técnico Rogério Ceni reclamando da falta de água na piscina de fisioterapia do CT. Uma instituição quebrada, sofrendo com lesões constantes, precisando subir garotos ao profissional para cobrir buracos. Um clube de cobertor curto, agora hospedado em um estádio que continua grande, mas que viu os maiores rivais erigirem duas arenas de padrão Copa do Mundo.
Achariam estranho um Choque-Rei com as equipes vivendo momentos tão distintos? De um lado, o Palmeiras, rico, vindo de dois anos de domínio da América, prestes a ser campeão brasileiro pela 11ª vez. Do outro, o São Paulo, fechando mais um ano sem títulos e próximo apenas de mais uma vaga na Sul-Americana.
Palmeiras e São Paulo voltam a se enfrentar neste domingo, às 16h, no Allianz Parque, pela 32ª rodada. Os comandados de Abel Ferreira lideram o Brasileirão com 67 pontos e os de Rogério ocupam a 12ª colocação, com 40 (e um jogo a menos).
As criancinhas iam achar que era mentira. Coisa de torcedor rival querendo encher o saco. E seria melhor não acreditarem mesmo, porque o que fizeram com o tricolor iria lhes tirar a esperança.
UOL