A Prefeitura de Areia, no Brejo Paraibano, está no centro de uma polêmica após a desapropriação de um terreno no distrito de Mata Limpa, pertencente ao senhor Alcides Prazeres, para a construção de um cemitério municipal. O caso gerou forte revolta da família proprietária e da população local, não apenas pela falta de negociação, mas também pelos riscos ambientais severos que a obra pode causar à região.
Segundo Stella Brownlee, filha de Alcides e especialista em Ciências do Solo, a Prefeitura nunca estabeleceu qualquer diálogo ou acordo concreto antes da desapropriação. A única conversa ocorreu quando uma secretária do município visitou a residência da família para sondar a possibilidade da desapropriação. Diante da recusa dos proprietários, que já alertavam para os riscos ambientais, a gestão municipal prometeu enviar um perito, mas nenhuma outra tratativa foi feita. A família só tomou conhecimento oficial da desapropriação ao ver o projeto do cemitério publicado nas redes sociais da Prefeitura.
Risco de contaminação da água e impacto ambiental
A construção do cemitério na área escolhida levanta sérios questionamentos ambientais. O terreno está localizado em uma região de declive acentuado e próxima a diversas nascentes, que abastecem o lençol freático e servem como fonte de água para consumo humano e irrigação. Segundo Stella, a decomposição dos corpos liberaria chorume, um líquido altamente poluente, contendo metais pesados e bactérias, que poderia infiltrar-se rapidamente no solo e contaminar os olhos d’água.
A situação se agrava ainda mais devido ao relevo da área. Em terrenos inclinados, a drenagem do chorume é acelerada, aumentando o risco de infiltração em camadas mais profundas do solo e sua propagação para outras áreas. Isso pode causar um efeito dominó, contaminando poços artesianos, cacimbas e nascentes utilizadas pela comunidade. Além disso, a movimentação de terra para a construção pode gerar processos erosivos, agravando ainda mais a degradação ambiental.
Outro ponto de preocupação é a ausência de estudos ambientais detalhados que comprovem a segurança do local para esse tipo de obra. Stella questiona a falta de análise do solo e de medidas mitigadoras que poderiam reduzir o impacto ambiental. “Não existe um plano para conter a contaminação do solo e da água, não há análise de compactação, erosão ou recuperação ambiental. A Prefeitura simplesmente decidiu que ali seria o cemitério sem considerar as consequências para a população”, alertou.
Mobilização política e críticas à Prefeitura
A situação gerou grande mobilização entre moradores e figuras políticas locais. A ex-candidata a prefeita de Areia, Aparecida Gomes, manifestou solidariedade à família e criticou a postura da gestão municipal. Em nota, ela afirmou que a Prefeitura tem condições de adquirir outro terreno sem prejudicar os moradores e sugeriu alternativas, como a região de Capim de Cheiro, onde já há um cemitério particular.
“Esse bem da família Prazeres foi conseguido com muito sacrifício e anos de trabalho árduo. Não é justo que seja tomado dessa forma. A Prefeitura deveria comprar um terreno próprio em vez de prejudicar uma família que construiu sua história naquele local”, declarou Aparecida.
O caso também chegou à Câmara Municipal, onde vereadores questionaram a escolha do terreno e pediram uma análise técnica mais detalhada dos impactos ambientais. Há sugestões para que especialistas independentes sejam convidados para avaliar a viabilidade do projeto antes que as obras sejam iniciadas.
Enquanto isso, a família segue na Justiça tentando reverter a desapropriação, e a população de Mata Limpa teme pelo futuro de suas fontes de água. A polêmica continua mobilizando a opinião pública, e a pressão sobre a Prefeitura aumenta para que a decisão seja revista antes que danos irreversíveis sejam causados ao meio ambiente e à comunidade local.
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Portal do Litoral PB