O presidente americano, Donald Trump, assinou, na noite desta segunda-feira (10/02), ações executivas que impõem tarifas sobre as importações de aço e alumínio.
O presidente americano determinou uma tarifa de 25% sobre alumínio e aço, de acordo com a agência de notícias AFP, e cancelou isenções e cotas livres de impostos para grandes fornecedores como Canadá, México, Brasil e outros países.
“Hoje estou simplificando nossas tarifas sobre aço e alumínio”, afirmou Trump. “É 25% sem exceções ou isenções.”
Detalhes do plano de Trump ainda não foram anunciados — prevê-se que isso seja divulgado ainda esta semana.
Para repórteres, ele disse que tarifas recíprocas seriam implementadas nos próximos dois dias.
“Não me importo”, Trump disse, segundo relatos, ao ser questionado sobre outros países retaliando contra as tarifas dos EUA.
Ele também indicou que consideraria tarifas adicionais sobre automóveis, produtos farmacêuticos e chips de computador, segundo a AFP.
O Brasil será um dos países mais atingidos pelas tarifas.
Tarifas são usadas como barreiras comerciais pelos países. Ao cobrá-las, o governo desestimula importações ao encarecer produtos importados em relação aos produtos nacionais.
Além disso, o encarecimento pode ter o efeito de esfriar a demanda pelos produtos.
O principal afetado pelas medidas é o Canadá — que é a maior fonte de aço e alumínio importados pelos EUA. Mas Brasil, México e Coreia do Sul também são grandes fornecedores de aço aos EUA.
Em 2024, de acordo com o Departamento de Comércio dos EUA, o Canadá exportou 6 milhões de toneladas para os EUA.
Em seguida, vem o Brasil com 4,1 milhões de toneladas e depois o México, que enviou 3,2 milhões de toneladas de aço para os EUA no ano passado.
O Brasil é o nono maior produtor de aço bruto do mundo, atrás de China, Índia, Japão, EUA, Rússia, Coreia do Sul, Alemanha e Turquia.
Os EUA são, de longe, o maior mercado para produtos siderúrgicos do Brasil. O Brasil exporta para os EUA 12 vezes mais do que para a Europa e 6 vezes mais do que para a América Latina.
Já em relação ao alumínio, outro produto alvo de tarifas anunciadas por Trump, o Brasil é o 14º maior fornecedor para os EUA, segundo dados do departamento de Comércio dos EUA.
O próprio Brasil também pratica protecionismo no setor do aço. Em outubro, após mais de um ano de análise, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) elevou para 25% o imposto de importação para 11 tipos de produtos de ferro e de aço. Antes disso, esses produtos pagam de 10,8% a 14% para entrarem no país.
O pedido foi feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (Sicetel) que acusava “concorrência desleal dos produtos importados”.
Reações
Ainda não houve manifestação oficial do Brasil — seja do governo federal ou das indústrias afetadas.
A União Europeia disse que não recebeu nenhuma notificação oficial de novas tarifas dos Estados Unidos.
Em uma declaração, a Comissão Europeia disse que não vê “nenhuma justificativa” para essas tarifas sobre suas exportações e acrescentou: “Reagiremos para proteger os interesses das empresas, trabalhadores e consumidores europeus de medidas injustificadas”.
“A imposição de tarifas seria ilegal e economicamente contraproducente, especialmente dadas as cadeias de produção profundamente integradas que a UE e os EUA estabeleceram por meio do comércio e investimento transatlântico. Tarifas são essencialmente impostos”, diz a nota da União Europeia.
“Ao impor tarifas, os EUA estariam taxando seus próprios cidadãos, aumentando os custos para os negócios e alimentando a inflação. Além disso, as tarifas aumentam a incerteza econômica e interrompem a eficiência e a integração dos mercados globais.”
Especialistas acreditam que as remessas de aço e alumínio da UE para os EUA já devem enfrentar um aumento nas tarifas no final de março.
Isso porque há pouco mais de um ano o então presidente Joe Biden concordou com um acordo para suspender as tarifas que foram impostas no primeiro mandato de Trump — mas isso está prestes a acabar.
Na Europa, tarifas sobre diversos outros produtos dos EUA, como motocicletas Harley Davidson, jeans e bourbon, voltarão a entrar em vigor.
O Ministério das Relações Exteriores da China pediu nesta segunda-feira que os EUA “corrijam sua abordagem errônea e parem de politizar e transformar questões econômicas e comerciais em armas” e fez um apelo por mais diálogo.
Duas ameaças de Trump; dois recuos
O aço e o alumínio brasileiro já estiveram ameaçados com grandes tarifas por Trump em duas ocasiões — e em ambas elas acabaram não sendo aplicadas.
Em março de 2018, no começo de seu primeiro mandato como presidente, Trump anunciou alíquotas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio que são comprados pelos EUA de outros países.
A medida teria grande impacto para a indústria brasileira, já que os EUA são os maiores compradores do aço produzido no Brasil.
Mas, dias depois, Trump assinou um novo decreto isentando Argentina, Austrália, Brasil, União Europeia e Coreia do Sul da nova regra. As taxas voltaram a 0,9%, para o aço e 2% para o alumínio.
Em dezembro de 2019, Trump voltou a falar em aumento de tarifas para o aço e alumínio — tendo Brasil e Argentina como alvos principais. Ele atribuiu a decisão à desvalorização do real e do peso argentino em relação ao dólar.
“Brasil e Argentina estão promovendo desvalorização em massa de suas moedas, algo ruim para os nossos fazendeiros. Portanto, tendo efeito imediato, vou restaurar as tarifas sobre aço e alumínio que são importados aos Estados Unidos desses países”, escreveu Trump em sua conta no Twitter (atual X).
A jornalistas, Trump disse na época: “Se você olhar o que aconteceu com o câmbio deles, eles desvalorizaram o seu câmbio de modo substancial, em 10%. A Argentina também. Eu havia dado a eles um grande alívio tarifário, mas agora eu estou retirando isso. É muito injusto com a nossa indústria, é muito injusto com nossos fazendeiros. Nossas companhias de aço vão ficar muito felizes, nossos fazendeiros vão ficar muito felizes com o que eu fiz”.
Dias depois, Trump conversou com o então presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e anunciou que havia desistido das tarifas ao aço brasileiro.
Após a conversa, Trump publicou no Twitter: “Acabo de ter uma ótima conversa com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Discutimos muitos assuntos de comércio. A relação entre Estados Unidos e Brasil nunca foi tão forte”.
Apesar das duas ameaças — em março de 2018 e dezembro de 2019 — os EUA nunca aplicaram a sobretaxa ao aço e alumínio brasileiros.
No segundo anúncio de Trump, a medida só foi prometida nas redes sociais. O decreto que regulamentaria as barreiras tarifárias nunca foi publicado pelo órgão responsável pelas relações comerciais americanas, o USTR.
Naquele momento, integrantes do governo Trump demonstraram perplexidade com a medida anunciada pelo republicano, que não havia sido previamente discutida com o Departamento de Estado ou com o de Comércio.
O gesto foi entendido como um aceno aos agricultores americanos, eleitorado cativo de Trump que acabou fortemente castigado pela guerra comercial com a China.
Por que tarifas?
Em sua última ameaça comercial, Trump não deixou claro por que escolheu aço e alumínio especificamente para tarifas — mas há pistas de seu primeiro mandato, segundo o repórter da BBC News, Jonathan Josephs.
Em março de 2018, Trump se reuniu com produtores americanos de aço e alumínio na Casa Branca para ouvir suas preocupações e anunciar novas tarifas. “Precisamos de grandes siderúrgicas, grandes fabricantes de alumínio para defesa.”
Ele também falou sobre a necessidade de proteger empregos e reequilibrar acordos comerciais que ele via como injustos. Os usos militares dos metais variam de navios de guerra e helicópteros a mísseis e munições.
Ao mesmo tempo, ele destacou a China por fornecer aço barato em excesso ao mundo, o que tornou difícil para os rivais dos EUA competirem em preço. É uma alegação que Pequim nega.
BBC