O cuidado com a saúde bucal deve ir muito além de uma preocupação estética. A falta de manutenção regular dos dentes pode ter consequências severas no desenvolvimento de problemas cardíacos. Segundo pesquisa realizada em 2019 pelo Instituto do Coração (InCor), da Universidade de São Paulo (USP), 45% das doenças do coração e 36% das mortes por problemas cardíacos têm origem dental.
A relação entre alterações cardiovasculares e saúde bucal está associada sobretudo a doenças gengivais e periodontais. Isso porque a inflamação causada pelo acúmulo de placas bacterianas na região pode comprometer os dentes, os tecidos e os ossos da boca. Essas bactérias podem invadir o organismo e se alojar nas paredes e vasos sanguíneos da região cardíaca. Dessa forma, comprometem a circulação do sangue e ocasionam problemas cardiovasculares.
As doenças cardíacas que mais estão associadas a problemas bucais são a arritmia cardíaca e a endocardite bacteriana. A primeira acontece quando os impulsos do coração não funcionam corretamente. Já a endocardite bacteriana é uma inflamação que ocorre na membrana que reveste a camada interna do coração e das válvulas cardíacas. Entretanto, as complicações na boca podem levar a outras doenças. Isso porque as bactérias infecciosas da boca podem se disseminar por toda a corrente sanguínea de forma sistêmica. E, dessa forma, ocasionar doenças como aterosclerose, bem como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto
Conforme explica o dentista e professor Jayme Bordini (CRO/PR 5182), do Departamento de Estomatologia da Universidade Federal do Paraná, além de pacientes com problemas crônicos na gengiva, algumas pessoas são mais suscetíveis a essas complicações. “Existem comorbidades que facilitam esse processo. Por exemplo, pacientes que têm doenças autoimunes ou mesmo diabetes têm uma associação estatística maior de doenças cardíacas relacionadas à problemas bucais.” Segundo Bordini, esses pacientes precisam de um controle mais rigoroso para a prevenção de doenças infecciosas na boca, com avaliação clínica periódica e a correta higiene da boca.
Causas e sintomas
A causa mais comum de doenças gengivais e periodontais está relacionada à higienização inadequada da boca e ausência de acompanhamento profissional. Assim, a falta de cuidado com a saúde bucal favorece o acúmulo de placa bacteriana nos dentes e na gengiva, levando à inflamação. O diagnóstico da gravidade do quadro clínico do paciente é feito por análise clínica e exames específicos, que irão verificar a profundidade gengival e das áreas de retenção de bactérias.
Segundo Bordini, é possível perceber os sintomas a partir de alterações na gengiva e nos dentes. As gengivas ficam mais avermelhadas, inchadas e doloridas ao toque, sangram durante a escovação e alimentação. “Os primeiros sinais que aparecem são a mudança da coloração do tecido gengival, seguido por sangramento. Depois, com a evolução da doença, existe o aumento desse sangramento, e da sensibilidade”, explica. Além disso, é comum a retração da gengiva em relação aos dentes e o mau hálito.
Como prevenir
O tratamento para as doenças gengivais e periodontais é focado na desinfecção, mas o cuidado principal relacionado a esses problemas é preventivo. A higienização adequada da boca, com o mínimo de três escovações diárias, o uso adequado do fio dental e a avaliação clínica periódica são os fatores que mais influenciam na manutenção da saúde bucal. “A prevenção é o acompanhamento frequente pelo profissional, higiene, controle da placa bacteriana, avaliação de áreas com presença de cáries e de inflamações”, destaca Bordini.
A influência da pandemia no número de casos
Segundo um estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Hospital Alberto Urquiza Wanderley e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), realizado em seis capitais brasileiras, o número de mortes por doenças cardiovasculares cresceu até 132% no Brasil durante a pandemia da Covid-19.
Esse aumento de mortes pode estar relacionado a diversos fatores, como a presença de cardiopatas no grupo de risco da pandemia. Os resultados indicam também que os problemas relacionados ao estresse, diabetes e hipertensão foram agravados nesse período.
G1