Quando Jennifer Byrne, proprietária e técnica da empresa Comfy Heating and Cooling, recebe uma ligação para ir consertar um sistema de ar-condicionado relativamente novo, uma das primeiras perguntas que faz é se a casa foi reformada recentemente.
Na região oeste da cidade da Filadélfia, EUA, Byrne já encontrou reformas mal feitas em que os instaladores pularam etapas como o teste de pressão após a instalação. Isso pode causar acúmulo de gelo e vazamento de produtos químicos que promovem o resfriamento, chamados refrigerantes.
“Esse é um problema extremamente frequente por aqui. As pessoas normalmente contam que compraram uma casa que foi mexida, e há todo tipo de coisa errada, como o ar condicionado congelando”, conta Byrne, se referindo ao acúmulo de gelo.
“Tentam fazer da forma mais barata possível”, acrescentou, enquanto retirava o equipamento de sua caminhonete.
Não é um problema pequeno. Quando gases refrigerantes vazam assim, são altamente destrutivos para a sensível atmosfera da Terra. Eles são “os gases de efeito estufa mais potentes conhecidos pela ciência moderna”, como descreve um artigo científico, e estão aumentando depressa.
Um dos mais comuns, com o nome hostil de R-410A, é 2.088 vezes mais prejudicial ao clima do que o dióxido de carbono proveniente da queima de carvão e gasolina. Assim, uma das formas essenciais para as pessoas se refrescarem está tornando o mundo mais quente e mais instável.
É por isso que o Clean Air Act, a Lei do Ar Limpo nos EUA, proíbe a liberação intencional da maioria dos fluidos refrigerantes. Quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) exigiu que uma família de produtos químicos fosse gradualmente descontinuada em 85% até 2036, criou-se uma pressão para desenvolver e difundir alternativas mais limpas.
A caminhonete de Byrne está carregada com ferramentas, recipientes, mangueiras e cilindros selados especiais, inclusive um em cor rosa, do padrão industrial, que contém o potente R-410A. Quando ela conserta uma unidade de A/C com vazamento, ela drena o resto do fluido refrigerante em um dos cilindros, para permanecer armazenado de forma segura enquanto ela desmonta o aparelho.
Os aparelhos domésticos de ar-condicionado, porém, são apenas uma das formas pelas quais o gás refrigerante penetra na atmosfera, elevando os níveis de forma mensurável e contribuindo para o aumento das condições meteorológicas extremas.
Os carros são outra fonte desses super poluentes, segundo Eckhard Groll, especialista em refrigeração e coordenador de engenharia mecânica na Universidade Purdue. Os sistemas de ar-condicionado em veículos movidos a gasolina são “propensos a vazamentos” e, em média, cerca de 25% do gás refrigerante de todos os carros vaza a cada ano. Com mais de 200 milhões de carros a gasolina só nos EUA, Groll calcula que isso equivaleria a aproximadamente 45 mil toneladas de gás refrigerante chegando à atmosfera a cada ano.
Os supermercados são a segunda maior fonte de vazamentos, porque são grandes, e extensas tubulações transportam o fluido refrigerante até cada expositor refrigerado. Danielle Wright, diretora-executiva do Conselho Norte-Americano de Refrigeração Sustentável, um grupo de defesa de interesses, diz que aproximadamente 25% do gás refrigerante de um supermercado médio vaza a cada ano, o que confirma um documento da Agência de Proteção Ambiental de 2011.
“Eu não diria que (os supermercados) estão necessariamente fazendo economia, mas vamos dizer assim: é mais barato deixar o gás refrigerante vazar do que construir um sistema à prova de vazamento”, diz Wright.
A necessidade de minimizar o vazamento de gás refrigerante impulsionou uma indústria de reutilização e recuperação. Uma dessas empresas nos EUA é a A-Gas Rapid Recovery, que tem instalações em Dallas, no estado americano do Texas, em Toledo, no estado de Ohio, e em Punta Gorda, na Flórida, entre outras.
Os fluidos refrigerantes podem ser usados muitas vezes e durar por 30 anos, diz Mike Armstrong, presidente da A-Gas nas Américas. A empresa coleta fluido refrigerante e tanques em todo o país e, além disso, drena, purifica e recupera os produtos químicos, e depois despacha o produto reciclado.
“Antigamente, alguns técnicos literalmente só cortavam o tubo e liberavam o gás na atmosfera”, conta Anthony Nash, gerente de treinamento na rede A-Gas. Agora, “a EPA e a regulação que se aplica a todos nós tornam isso não só ilegal, mas também antiético”, diz.
O fluido refrigerante que não pode ser reutilizado passa por um processo a temperaturas extremamente altas, chamado pirólise, em que os gases são destruídos. Os negócios estão em franca expansão.
“A indústria provavelmente vai aumentar de quatro a cinco vezes nos próximos dois anos”, diz Armstrong.
Substituições sustentáveis
Ao mesmo tempo, a indústria química está procurando substitutos. Até agora, alguns são muito melhores na questão climática, mas poderiam ter outros aspectos negativos, como serem inflamáveis, e seu impacto a longo prazo sobre o meio ambiente ainda não é conhecido.
Vários pesquisadores estão cogitando o próprio dióxido de carbono como um gás refrigerante. Mas Groll ressalva que ele precisa estar sob pressão extremamente alta, o que exige sistemas diferentes.
O dióxido de carbono seria ótimo se “estivesse sendo retirado da atmosfera”, segundo Christopher Cappa, professor de engenharia ambiental na Universidade da Califórnia, em Davis. “Mas se estamos produzindo apenas como gás refrigerante, então isso não seria necessariamente tão bom.”
“É possível pensar em um futuro onde avançaríamos para uma economia em grande parte livre de combustíveis fósseis e nossa principal fonte de dióxido de carbono seria retirá-lo da atmosfera”, diz Cappa.
Atualmente, os compradores comerciais que procuram uma refrigeração menos poluente conseguem encontrá-la. “É uma bola na cara do gol, uma tecnologia conhecida que está pronta para o mercado”, diz Wright.
Mas quando se trata de ar-condicionado, a história é diferente. Wright alega que os esforços de lobby dos fabricantes de produtos químicos e de equipamentos de climatização, além de alguns códigos e padrões, paralisaram o desenvolvimento de fluidos refrigerantes menos poluentes para os equipamentos de ar condicionado nos EUA.
Mas uma grande fabricante, chamada Trane Technologies, diz que vem trabalhando intensamente na busca de alternativas menos poluentes, já selecionou uma que é 78% menos prejudicial do que a atual, e irá adotá-la gradualmente nos aparelhos a partir de 2024.
Jarad Mason, professor assistente de química e biologia química na Universidade de Harvard, está trabalhando em cooperação com colegas pesquisadores para desenvolver um fluido refrigerante que seja, na verdade, um sólido no lugar do vapor. O mineral perovskita é eficaz na absorção de calor sob baixa pressão, permitindo que resfrie o ambiente.
A pesquisa em refrigerantes sólidos está nos primeiros passos, mas Mason vê com otimismo seu potencial, porque poderia ser usada em geladeiras, edifícios comerciais, e residências.
“A procura por aquecimento e arrefecimento só vai aumentar, e é absolutamente vital que tenhamos formas sustentáveis e econômicas de fornecer isso a todos no mundo”, diz.
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