Neymar é o maior artilheiro da seleção brasileira. Fez, contra a Bolívia, o gol que coloca ele à frente de Pelé nessa artilharia específica. Mas o que isso quer dizer?
Um número é apenas um número quando não inserido em contexto.
E qual o contexto?
Há alguns.
O primeiro, eu diria, seria entender que, quando Pelé jogou, muitas partidas não tinham seus gols contabilizados. Outra época, outros métodos, menos jogos oficiais, muitos amistosos. Então, de cara, essa comparação é difícil de ser feita.
Mas a FIFA quer números e a CBF se curva mesmo que seja para correr o risco de diminuir a relevância de Pelé.
Outro contexto seria estabelecer uma média de gols levando em consideração os jogos contabilizados pela FIFA. Se fizermos isso, a de Pelé é maior.
Meu colega Mauro Cezar Pereira informou que Pelé fez 95 gols pela seleção brasileira em 113 jogos, média de 0,84. Neymar chegou a 79 gols em 125 partidas: média de 0,63.
Outra perspectiva seria a de buscar significado para os gols.
O que fizeram por nós e pela seleção os gols de Neymar? Pouco. E os de Pelé? Tudo.
Quem foi Pelé para a seleção e para o mundo? Um rei. E Neymar?
Pelé é ídolo maior de todas as torcidas, Neymar não é ídolo máximo nem mesmo dos clubes por onde passou.
Isso significa que o número alcançado por Neymar é desprezível?
Não, de modo algum.
Significa que Neymar é ruim? Claro que seria absurdo pensar assim; Neymar é um fora-de-série.
Mas o dado é certamente relevante para a Neymar S.A, embora não seja para a torcida brasileira.
É bom para o currículo dele, para que ele siga fazendo seus negócios, seus contratos, suas campanhas publicitárias. Aumenta capital simbólico num mundo que hiper-valoriza feitos individuais mesmo dentro de esportes coletivos.
Que assim seja. Caso encerrado. Ou não.
Neymar, a bem da verdade, não pode ser comparado nem a Zico.
Zico fez mais pela seleção do que Neymar.
Zico levou a sério esse troço de jogo coletivo e solidário, usou seus infinitos recursos técnicos em nome de alguma coisa maior e de algum bem comum.
Se quisermos seguir com as comparações, Ronaldo e Ronaldinho são maiores do que Neymar com a camisa da seleção. Assim como Bebeto e Romário.
Mas, claro, se não temos uma régua (número de gols, número de títulos, número de pênaltis convertidos etc etc etc) tudo fica muito subjetivo e navegar por águas subjetivas apavora. Para piorar, nesse meio, quem não concorda com uma opinião tende a berrar, ofender, agredir.
É que não me interessa o futebol colocado em números, esvaziado de seu sentido.
Nem acho que isso seja futebol. Esse jogo que eu teimo em amar existe no universo das coisas subjetivas, não pode ser traduzido em gráficos, estatísticas, conceitos objetivos.