Uma das principais propostas de Javier Milei, eleito neste domingo para presidir a Argentina pelos próximos quatro anos, é dolarizar a economia do país. Isso significa substituir o peso pelo dólar como moeda oficial.
O objetivo é debelar a inflação, que passa de 100% em 12 meses. Mas o que mudaria para os argentinos e para os brasileiros, caso a mudança seja implementada? Veja abaixo:
O QUE SIGNIFICARIA A DOLARIZAÇÃO DA ECONOMIA ARGENTINA?
A moeda oficial passaria a ser o dólar. Na Argentina, hoje, é permitido ter conta de poupança em dólar e a divisa serve de referência, mas a moeda corrente é o peso. Por exemplo, imóveis são negociados em dólar, mas o pagamento tem que ser feito em pesos. Muitos poupam em dólares, seja em conta no banco ou em dinheiro, “embaixo do colchão”.
OS SALÁRIOS PASSARIAM A SER PAGOS EM DÓLAR?
Sem o peso, o dólar passa a ser a moeda corrente para todas as transações, incluindo o pagamento de salários.
OS ARGENTINOS FICARIAM RICOS COM A ECONOMIA DOLARIZADA?
Não, porque depende da taxa de câmbio na troca dos pesos por dólares. Quanto maior a taxa, menor o valor, em dólar, de salários e rendimentos.
O QUE MUDARIA COM A DOLARIZAÇÃO FORMAL?
É esperado um tombo na inflação. E que a estabilidade de preços se mantenha, já que a inflação em dólar, geralmente, é baixa. Por outro lado, o país abre mão de algumas medidas de política econômica.
DE QUAIS MEDIDAS SE ABRE MÃO COM A DOLARIZAÇÃO?
Sem moeda própria, o governo não poderia mais fixar a taxa básica de juros, passaria a seguir os juros do Fed, o banco central americano. Se algum problema doméstico provoca uma recessão, não seria possível baixar juros para aquecer a economia. Se o Fed sobe os juros por algum motivo doméstico dos EUA, a economia argentina vai esfriar, mesmo que esteja estagnada.
E NO CASO DE CRISES INTERNACIONAIS?
O país ficaria mais suscetível a choques externos. Uma alta nas cotações de matérias-primas negociadas em dólar, como o petróleo, pode afetar mais rapidamente a economia local.
OS SERVIÇOS PÚBLICOS, COMO SAÚDE E EDUCAÇÃO, PODERÃO SER AFETADOS?
Com títulos de dívida em dólar, o governo perde margem de manobra nas contas públicas. Se uma crise derruba a arrecadação, para não ficar com um rombo, cortes de gastos podem ser abruptos, afetando serviços essenciais.
![Apoiadores de Javier Milei levantam bandeira com sua imagem estampada em uma cédula — Foto: Hernan Zenteno / La nacion / GDA](https://i0.wp.com/s2-oglobo.glbimg.com/QBPV9lSatzBFipPBUhi39Rwzstc=/0x0:720x480/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/c/b/BdUTJERPuUZsMxUnZv3w/103971259-07-06-2023-buenos-aires-campana-de-milei-en-lugano-arranc-en-la-esquina-de-chilav.jpg?resize=720%2C480&ssl=1)
PARA O BRASIL, O QUE MUDA SE A ARGENTINA DOLARIZAR?
Recessão e inflação descontrolada derrubam a demanda argentina. Se a dolarização estabilizar o vizinho, a demanda por bens e serviços brasileiros poderia aumentar ou parar de cair. Operacionalmente, a troca de moeda faria pouca diferença, pois as transações entre os dois países já são em dólar.
A ARGENTINA FICARIA MAIS BARATA PARA O TURISTA BRASILEIRO?
O país tende a continuar sendo um destino barato. Depende da taxa de câmbio usada na troca, total do dinheiro em circulação, mas a tendência é que os preços em dólar sigam pelo menos tão baixos quanto atualmente.
QUAIS OS OBSTÁCULOS PARA A DOLARIZAÇÃO?
Faltam dólares para substituir todos os pesos. Estimativas para o valor necessário, dependendo do câmbio, vão de US$ 35 bilhões a US$ 50 bilhões, mas o banco central tem reservas de US$ 7,3 bilhões, em termos brutos, diz a consultoria 1816. O valor fica negativo quando se descontam os passivos.
COMO FICARIAM OS BANCOS?
Passariam a transacionar apenas com dólares, o que poderia ser um problema. Um fundo de reservas em dólar precisaria ser criado para lidar com eventuais problemas no sistema bancário, como foi feito no Equador e em El Salvador, que dolarizaram suas economias no início dos anos 2000. Não há casos de dolarização em economias de maior porte, como a argentina.
COMO APROVAR A DOLARIZAÇÃO?
Exigiria aprovação no Congresso, mas Javier Milei dificilmente terá maioria. Para a consultoria 1816, se o resultado das primárias se repetir nas eleições, o partido de Milei teria 15% dos deputados federais e 11% dos senadores.
O Globo