Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Edith Cowan (ECU, da sigla em inglês), na Austrália, mostrou que uma única sessão de exercício físico já foi suficiente para elevar a produção de substâncias anticâncer. O trabalho foi publicado na revista científica Breast Cancer Research and Treatment.
Os cientistas analisaram 32 sobreviventes de câncer de mama que realizaram uma única sessão de treino de resistência, como musculação, ou de treino intervalado de alta intensidade (HIIT, da sigla em inglês), que consiste em exercícios curtos e intensos intercalados com períodos de descanso ou atividade leve.
Amostras de sangue dos participantes foram coletadas antes dos treinos, imediatamente depois e 30 minutos após o término da atividade. Os resultados mostraram que a sessão foi suficiente para elevar a concentração de miocinas, proteínas produzidas pelos músculos que possuem efeitos anticâncer e que podem reduzir a proliferação do crescimento do câncer.
“O exercício surgiu como uma intervenção terapêutica no manejo do câncer, e há um vasto conjunto de evidências que mostram a segurança e a eficácia do exercício como medicamento, tanto durante quanto após o tratamento do câncer”, explica o autor do trabalho e pesquisador da ECU, Francesco Bettariga, em comunicado.
“Os resultados do estudo mostram que ambos os tipos de exercício realmente funcionam para produzir essas miocinas anticâncer em sobreviventes de câncer de mama. Os resultados deste estudo são excelentes motivadores para incluir o exercício como cuidado padrão no tratamento do câncer”, complementa.
Um outro trabalho de Bettariga, publicado no periódico Journal of Cancer Survivorship, em julho, investigou uma outra relação entre atividade física e câncer: a mudança na composição corporal e os efeitos no combate à doença. O estudo concluiu que as alterações poderiam reduzir a inflamação do corpo, que favorece o crescimento do tumor.
“São necessárias estratégias para reduzir a inflamação, que podem proporcionar um ambiente menos favorável à progressão do câncer, levando a um risco menor de recorrência e mortalidade em sobreviventes de câncer de mama”, diz o cientista.
“Se conseguirmos melhorar a composição corporal, temos uma chance melhor de diminuir a inflamação porque estamos aumentando a massa magra e reduzindo a massa de gordura, que é responsável pela liberação de marcadores anti e pró-inflamatórios”, continua.
O pesquisador, no entanto, destacou que soluções rápidas para reduzir gordura não devem proporcionar os mesmos efeitos benéficos:
“Nunca se deve tentar reduzir o peso sem fazer exercícios, porque é preciso construir ou preservar a massa muscular e produzir esses químicos que não conseguimos apenas com a dieta”.
Evidências reforçam atividade física contra o câncer
Esses não são os primeiros trabalhos a demonstrarem o impacto do movimento no combate ao câncer. Uma ampla revisão de estudos, publicada em abril na revista científica British Journal of Sports Medicine, comprovou que a prática de exercícios físicos é uma estratégia potente para combater os efeitos colaterais do tratamento oncológico.
Além disso, a revisão encontrou evidência de que a atividade física realizada antes da cirurgia reduziu o risco de complicações pós-operatórias, dor, tempo de internação hospitalar e risco de morte.
Outro estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, publicado na revista científica Cancer Research, mostrou que exercícios aeróbicos reduzem o risco de câncer metastático, quando se espalha além do órgão de origem, em até 72%. Para os responsáveis, a prática aumenta o consumo de glicose pelos órgãos internos, reduzindo a energia disponível para o tumor crescer.
Já uma publicação na revista científica Journal of the National Cancer Institute avaliou o impacto dos exercícios antes, durante e depois do tratamento quimioterápico de 1,3 mil pacientes de maior risco com câncer de mama. Os resultados mostraram que, entre aquelas que eram ativas antes do diagnóstico, e continuaram até depois do tratamento, a mortalidade chegou a ser aproximadamente 50% inferior, assim como o risco de recorrência do tumor.
Para prevenção, uma revisão de 73 estudos, conduzida por pesquisadores do Centro de Serviços de Saúde do Câncer de Alberta, no Canadá, mostrou que houve em média 25% menos casos do tumor mamário, o mais frequente em mulheres, entre aquelas mais ativas.
Segundo um estudo do Instituto Nacional do Câncer (Inca), considerando os dados de 2019, uma diminuição de apenas 10% a insuficiência da atividade física na população brasileira até 2030 já levaria a uma economia de 20 milhões no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2040 devido aos custos oncológicos.
Em 2022, ele lançou o guia “Atividade física e câncer: recomendações para prevenção e controle”, junto à Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e à Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (Sbafs). O documento reúne evidências sobre o tema e orientações para que médicos passem a reforçar a prática a seus pacientes.
Para atingir os benefícios, as entidades orientam um mínimo de 150 minutos de atividade física moderada, aquela que é possível realizar enquanto conversa com outra pessoa, ou 75 minutos de atividade vigorosa, mais intensa, por semana. Esse tempo pode ser extrapolado para até 300 minutos da forma mais leve, ou 150 da mais pesada, no mesmo período. Porém, mesmo um pouco de movimento na rotina, que não alcance essas marcas, já faz diferença e deve ser considerado.
O Globo