O ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor de Mello disse, em entrevista ao Correio Braziliense, que “já viu este filme”, em relação ao governo Jair Bolsonaro.
Ele evitou comentar um possível impeachment, e observou semelhanças entre o atual governo e a passagem dele pelo Planalto.
“Olhe, continuando assim, eu não vejo a menor possibilidade de este governo dar certo. O que acontecerá, eu não saberia dizer. Mas, se continuar do jeito que está, o governo não tem como levar adiante o período governamental”, disse, ao ser questionado sobre se o desfecho do atual Governo poderia ser o mesmo que o dele.
Collor enfrentou um processo de impeachment em 1992 e deixou o cargo menos de dois anos após tomar posse.
Ele disse que um de seus erros foi não ter construído um melhor relacionamento com o Congresso Nacional e com a classe política, situação que ele enxerga no governo Bolsonaro.
“É um filme que eu já vi, embora haja diferenças entre o início do governo (do presidente Jair) Bolsonaro e o início do meu governo, parece que está passando novamente na minha frente. Certos episódios e eventos me deixam muito preocupado, talvez não cheguemos a um bom termo sobre o mandato mal exercido pelo presidente da República — a começar por essa falta de interesse em construir uma base sólida de sustentação no Parlamento. Partindo-se do princípio de que, sem maioria no Congresso, não se governa — isso é uma condição sine qua non em um regime presidencialista, mas também no parlamentarista. O desinteresse em construir essa maioria nos leva a temer um desenlace diferente do que gostaríamos. E, num clima de ingovernabilidade, tudo pode acontecer. Foi um descuido de minha parte (referindo-se ao próprio mandato, entre 1990 e 1992), nesse ponto, eu vejo a semelhança de não ter me preocupado, não ter dedicado a atenção devida desde o início do meu governo a um melhor relacionamento com a classe política. O presidente da República precisa entender que ele é o líder político da nação. Como líder político da nação, ele tem por dever fazer política, e fazer política pelos caminhos institucionais, com os partidos políticos e com os políticos. Querer quebrar uma regra de ouro de um processo democrático, é um nonsense”, disse Collor.
Collor contou que se sentiu um Super-Homem ao ser eleito: “Quando me elegi, pensei que era o super-homem. Coloquei na cabeça que precisava mudar o Brasil do dia para a noite. “Vou fazer, vou acontecer”. Então, foi um erro. Um erro que está acontecendo agora.”