A frase de João Azevêdo durante a reunião com os vereadores do PSB de João Pessoa, “não aceito vereador casa de esquina” — é mais do que um desabafo. É um recado direto, quase um ultimato, em meio ao esforço do governador para redesenhar o tabuleiro político que envolve seu grupo.

Ao lado do secretário Tibério Limeira, João reuniu Jailma, Odon Bezerra, Edmilson Soares, Tiago Diniz, Zezinho do Botafogo e Júnior Pires, estes dois últimos secretários da gestão Cícero Lucena, e deixou claro que o tempo da ambiguidade acabou. A reunião não foi sobre “casas de esquina”, mas sobre muros: de que lado cada um vai ficar.
João tem um estilo técnico, mas não é ingênuo na política. Sabe que, em ano pré-eleitoral, vereadores costumam querer transitar entre os dois governos — o estadual e o municipal — para garantir espaço e sobrevivência. Mas ao impor que o PSB de João Pessoa assuma integralmente o projeto que ele conduz, com Lucas Ribeiro como sucessor natural e Nabor Wanderley na chapa ao Senado, o governador sinaliza que quer controle total do partido na Capital.
A decisão é compreensível do ponto de vista estratégico, mas pode ter custo político. João se afasta cada vez mais de Cícero Lucena, que até pouco tempo era seu aliado mais importante em João Pessoa. O rompimento, que começou silencioso, hoje é aberto e quase pessoal. O governador esperava “paz para poder ser senador”, como admitiu na reunião, mas encontrou resistência e frustração.
Ao advertir os vereadores, João Azevêdo tenta mostrar força e disciplina partidária e, ao mesmo tempo, medir quem ainda está com ele de verdade. É o tipo de movimento que define rumos para 2026: quem escolher o Governo, embarca no projeto do PSB estadual; quem ficar com a Prefeitura, seguirá outro caminho.
Mas há um risco: ao tentar fechar a casa, o governador pode acabar diminuindo o tamanho do partido na Capital. Nem todo vereador sobrevive politicamente trancado dentro de um só lado. E João sabe que, por mais sólida que seja uma casa, é nas esquinas que o poder costuma mudar de direção.
Por: Napoleão Soares