Você decidiu vender seu carro e, claro, já consultou aquele valor mágico: o da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Mas, ao chegar em uma loja ou negociar com um comprador, a surpresa: “mas como assim estão me oferecendo 20% a menos?” Calma, respira. Não precisa se sentir lesado. A verdade é que a tabela nunca disse exatamente quanto vale o seu carro – e está tudo bem com isso.
De onde vem esse número?
A tabela Fipe expressa valores médios de veículos anunciados pelos vendedores, no mercado nacional, servindo apenas como um parâmetro para negociações ou avaliações. “Os preços efetivamente praticados variam em função da região, conservação, cor, acessórios ou qualquer outro fator que possa influenciar as condições de oferta e procura por um veículo específico”, alerta a entidade.
Por isso, atualmente, existem outras tabelas, menos famosas para o consumidor, só que mais precisas para o mercado profissional. Entre elas, estão: Molicar – muito usada pelos bancos para financiamentos; KBB (Kelley Blue Book), especializada em preços transacionais; AutoAvaliar/FGV, usada em redes de revenda, e Bright – outra referência do setor automotivo.
Essas tabelas captam valores reais de vendas feitas em lojas, concessionárias e plataformas de leilão ou remarketing. Ou seja: preço de verdade, não desejo. Ainda assim, Enilson explica que elas apenas balizam o mercado, pois o preço real quem dita é o estado do carro.
Seu carro vale quanto o mercado quer pagar
Pode ser duro de aceitar, mas é real: o valor do seu carro não está na tabela, está no mercado. Isso significa que o mesmo carro pode valer mais ou menos dependendo da região, da procura local e da aceitação da marca. Um Gol pode ter ótima saída em São Paulo, mas ficar encalhado em Uberaba, por exemplo.
A rede de concessionárias da sua cidade, o tipo de manutenção disponível, e até o gosto regional influenciam diretamente. “Já ajudamos lojistas a escolherem que modelos levar de Belo Horizonte para abrir lojas em Uberlândia ou Juiz de Fora. E eram carros completamente diferentes, porque o gosto do público muda de cidade para cidade”, conta Enilson.
Por que, então, todo mundo ainda fala em Fipe?
Porque a Fipe pegou. É conhecida, é “oficial”, e por muito tempo foi a única referência no Brasil. As concessionárias ainda a usam na conversa com o cliente, como uma forma de comunicação familiar. Mas no backstage, para decidir quanto realmente pagar, outras ferramentas entram em ação.
Ah, e sabe aquelas promoções que dizem “pagamos Fipe no seu usado”? Fique de olho no asterisco. Em geral, é só para quem vai dar o carro como entrada e comprar outro – e mesmo assim, há regras e limites.
Apesar de não refletir o valor exato de venda do seu carro, a tabela Fipe ainda é amplamente usada por seguradoras para calcular indenizações em caso de sinistro total ou roubo. Ou seja, se o seu carro for declarado perda total, o valor pago será com base na tabela Fipe do mês vigente – o que pode ser vantajoso (ou não), dependendo do momento do mercado.
Atualmente, por exemplo, tem sido bem positivo, mas o mesmo não acontecia na época da pandemia, quando, por causa da escassez de carros novos, os usados valiam até mais do que a Fipe.
Fipe é só o começo. O resto depende de você (e do seu carro)
Na prática, o valor do seu carro vai depender do estado dele, da negociação, do canal de venda (particular ou loja), da pressa que você tem e até da sorte. E se quiser saber quanto realmente vale seu carro? Pesquise preços reais, veja outras tabelas e, se possível, compare com transações feitas recentemente.
No fim das contas, vender um carro é um pouco como vender um imóvel: a tabela ajuda, mas quem dita o preço? É o comprador.
Uol