Quatro meses depois de o presidente Donald Trump dar o pontapé em sua guerra comercial, os Estados Unidos já arrecadaram quase US$ 50 bilhões em receitas alfandegárias extras a um custo relativamente baixo, aponta reportagem do Financial Times. Isso porque a maioria dos parceiros comerciais falhou em retaliar contra as tarifas impostas pelo presidente americano.
Até agora, apenas China e Canadá ousaram revidar contra o governo Trump, que impôs uma tarifa recíproca de ao menos 10% a praticamente todos os países, uma taxação de 50% sobre aço e alumínio, e de 25% sobre automóveis.
Ao mesmo tempo, acrescenta o FT, as receitas dos EUA com tarifas alfandegárias atingiram um recorde de US$ 64 bilhões no segundo trimestre, US$ 47 bilhões a mais do que no mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados pelo Departamento do Tesouro americano na semana passada.
Embora as tarifas retaliatórias da China sobre a importação de produtos americanos tenham sido até o momento as mais duradouras e significativas entre todos os países afetados pelo tarifaço de Trump, não tiveram o mesmo efeito: a receita total proveniente das tarifas registrou um aumento de apenas 1,9% em maio deste ano, em comparação com 2024.
O Canadá, cuja retaliação se limitou até agora à aplicação de um imposto sobre serviços digitais, ainda não divulgou os dados alfandegários do segundo trimestre.
Enquanto buscam fechar um acordo com o governo Trump e, assim, evita tarifas ainda maiores, outros parceiros comerciais dos EUA decidiram não responder às ameaças do presidente americano com medidas retaliatórias.
A União Europeia, o maior bloco comercial do mundo, segue empenhada numa negociação com os EUA, embora já tenha planejado tarifas de retaliação, mas está condicionando sua aplicação ao prazo de Trump para as negociações, marcado para até 1º de agosto. O bloco europeu, no entanto, já finalizou uma segunda lista de medidas retaliatórias contra produtos americanos, no valor de € 72 bilhões (US$ 84 bilhões), incluindo aeronaves da Boeing, automóveis e bourbon, caso decida responder ao agravamento das tensões comerciais transatlânticas.
As tarifas adicionais da UE também seriam aplicadas a maquinários, químicos e plásticos, dispositivos médicos, equipamentos elétricos, vinhos e outros bens agrícolas, de acordo com uma lista de 206 páginas preparada pela Comissão Europeia e obtida pela Bloomberg News.
Apesar das tarifas dos EUA terem atingido níveis não vistos desde a década de 1930, a timidez da resposta global a Trump evitou uma espiral de retaliações do tipo que devastou o comércio global entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, apontam economistas ouvidos pelo jornal britânico.
Ouvido pelo FT, Alexander Klein, professor de história econômica da Universidade de Sussex, acrescentou que considerações de curto prazo — como reduzir a exposição a tarifas e minimizar o risco de inflação — estão guiando a maioria das negociações com Trump, o que dá vantagem à Casa Branca.
O Financial Times ressalta que o fracasso dos países em se unir para enfrentar coletivamente as ameaças de Trump também deixou mais espaço para que o presidente dos EUA atacasse individualmente determinados países.
Na semana passada, por exemplo, ele ameaçou impor uma tarifa de 50% aos produtos brasileiros, citando justificativas em grande parte políticas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu, afirmando que o Brasil não aceitará ser tutelado por ninguém e que a elevação unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras anunciada por Trump seria respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
O maior parceiro comercial dos EUA, o México, não retaliou depois de ser atingido por tarifas de 25% em março sobre exportações não cobertas pelo Acordo EUA-México-Canadá.
O Globo