De olho na telinha, você acompanha com atenção o movimento dos jogadores em campo durante mais uma partida dos jogos da Copa do Mundo no Catar. De repente, um lance chama a atenção na grande área, a bola teima em balançar na trave e… você passa mal! É seu coração, aflito com tanto estresse, que manda sinais.
Segundo o pesquisador e cardiologista Valério Vasconcelos, há estudos que mostram os efeitos de uma partida de futebol no coração. Ele explica que o estresse emocional durante os jogos pode provocar aumento de adrenalina no corpo do torcedor. Tal fenômeno eleva a frequência cardíaca e a pressão arterial, que podem desencadear infarto, arritmia ou Acidente Vascular Cerebral (AVC), o popular derrame.
“Um estudo da Universidade de São Paulo, a USP, mostrou que o número de infarto agudo do miocárdio sobe de 4% a 8% durante partidas de futebol da Seleção Brasileira”, afirma Valério Vasconcelos. A pesquisa foi realizada entre 1998 e 2010, apenas com torcedores brasileiros, com o objetivo de avaliar os efeitos agudos do estresse ambiental induzido pelos jogos da Copa do Mundo de Futebol no aumento da incidência de doenças cardiovasculares no Brasil.
“Divulgado em 2013, o estudo ‘Copa do mundo de futebol como desencadeador de eventos cardiovasculares’ concluiu que a Copa do Mundo e, especialmente, os jogos da Seleção Brasileira implicam maior incidência de infarto agudo do miocárdio, mas não de mortalidade intra-hospitalar”, comenta Valério Vasconcelos.
No estudo da USP, foram avaliados os períodos das Copas do Mundo de Futebol de 1998, 2002, 2006 e 2010 e as respectivas datas dos jogos do Brasil, comparados com os dias sem Copa do Mundo e sem jogos do Brasil como controle. Os dados foram obtidos dos Sistemas de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), gerenciados pelo Ministério da Saúde e disponíveis na rede mundial de computadores para acesso gratuito.
Cérebro interpreta situação de risco e libera hormônios que afetam o sistema cardiovascular
Autor dos livros “Manual de Cardiologia para Graduação” e “O coração gosta de coisas boas”, o cardiologista Valério Vasconcelos lembra que, quando uma pessoa está estressada, como ao assistir um jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, o cérebro interpreta uma situação de risco ou perigo e libera diversos hormônios e substâncias químicas, como a adrenalina, o cortisol e a norepinefrina. “Juntos, esses hormônios agem diretamente no sistema cardiovascular: desencadeiam a vasoconstrição das artérias, diminuem assim a oferta de sangue no coração e causam aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, explica.
Durante uma partida da Copa do Mundo 2022, especialmente da Seleção Brasileira, caso você tenha sintomas como falta de ar, coração acelerado e transpiração excessiva, peça ajuda a quem estiver próximo. E procure atendimento médico imediatamente, para verificar se é um problema no coração ou uma crise de pânico.
“Os altos níveis de estresse podem causar muitos problemas à saúde do coração, pois a aceleração dos batimentos cardíacos pode levar ao aumento da pressão arterial. A pressão alta, por sua vez, tem impacto no coração, como o maior risco de infarto e de derrame. Para pessoas que têm outros fatores de risco para as doenças cardiovasculares, como os idosos, o efeito agudo dos hormônios do estresse no coração pode levar a arritmia ou a parada cardíaca”, ressalta Valério Vasconcelos.
Assessoria