Investigado pela CPI da Covid do Senado, o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) se irritou com uma pergunta sobre a vacina indiana Covaxin e, assim como costuma fazer o presidente Jair Bolsonaro quando não gosta de um questionamento, abandonou a entrevista aos jornalistas.
Queiroga falou nesta quarta-feira (23) com os jornalistas após cerimônia de lançamento de um fórum sobre proteção de fronteiras.
Inicialmente, o ministro foi questionado sobre o que faria em relação à vacina indiana Covaxin. À Folha o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que alertou Bolsonaro sobre indícios de irregularidade na negociação do Ministério da Saúde para a compra do imunizante.
O deputado é irmão de Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, que relatou ao MPF (Ministério Público Federal), em depoimento em 31 de março, revelado pela Folha, ter sofrido pressão incomum para assinar o contrato.
Queiroga disse que o governo não comprou nenhuma dose do imunizante. “Todas as vacinas que têm registro definitivo da Anvisa ou emergencial, o Ministério considera para aquisições.”
“Então, esperamos este tipo de posicionamento para tomar uma posição acerca não só dessa vacina, mas de qualquer outra vacina que obtenha registro emergencial ou definitivo da Anvisa porque já temos hoje um número de doses de vacina contratados acima de 630 milhões”, afirmou Queiroga.
Um outro jornalista perguntou então se o governo federal compraria a vacina mesmo com preço mais alto que os demais imunizantes. Foi neste momento em que o ministro se irritou.
“Eu falei em que idioma? Eu falei em português. Então, não foi comprado uma dose sequer da vacina Covaxin nem da Suptinik”, disse o ministro.
Os repórteres explicaram que a pergunta se referia a uma intenção futura. Queiroga disse que “futuro é futuro” e deixou a entrevista sem responder a outras indagações.
A compra da vacina pelo governo Jair Bolsonaro entrou na mira do MPF (Ministério Público Federal) e da CPI da Covid, no Senado.
A Procuradoria da República no DF, no curso de um inquérito civil público, apontou cláusulas benevolentes no contrato assinado entre a Precisa Medicamentos e a pasta; quebra contratual, com o desrespeito dos prazos acertados; e suspeita de favorecimento à empresa, que faz a intermediação da vacina mais cara —US$ 15 (R$ 80,70) por dose— dentre as adquiridas pelo ministério.
Como revelou a Folha, o Ministério Público Federal enxergou indícios de crime e desmembrou a investigação. A parte relacionada à aquisição da vacina Covaxin foi enviada no último dia 16 para um ofício da Procuradoria que cuida de combate à corrupção.
No despacho que desmembrou o procedimento, a procuradora Luciana Loureiro citou a “temeridade do risco” assumido pelo Ministério da Saúde com a contratação relacionada à Covaxin, “a não ser para atender a interesses divorciados do interesse público”.
“A omissão de atitudes corretivas da execução do contrato, somada ao histórico de irregularidades que pesa sobre os sócios da empresa Precisa e ao preço elevado pago pelas doses contratadas, em comparação com as demais, torna a situação carecedora de apuração aprofundada, sob duplo aspecto, cível e criminal”, afirmou a procuradora no despacho.
Folha