O deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP), vice-presidente nacional do partido e ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) , disse à revista Crusoé que o Palácio do Planalto distribuiu R$ 92 milhões dentro do PSL em troca de apoio político, em dezembro de 2020.
Segundo Bozzella, os recursos foram repassados a aliados por emendas e se trata de um escândalo “pior que o mensalão”. “Quem acreditou nesse governo nunca imaginou que estaria construindo o governo mais corrupto da história, seja em áreas como o meio ambiente ou no toma lá da cá dentro do Parlamento”, disse ele.
O nome do deputado aparece na lista dos que indicaram o destino para verbas no chamado “orçamento paralelo” , revelado pelo jornal Estadão. De acordo com ele, o então líder do partido, Felipe Francischini (PSL- PR), entrou em contato com seu gabinete informando que ele tinha o direito de indicar emendas e escolher para onde iriam os recursos. “Coube à liderança fazer a triagem com base na nossa relação política com prefeitos, com quem a gente tem ligação. Perguntaram quem a gente queria contemplar. Igual com as emendas impositivas”, afirmou.
“Foi com base nesse entendimento que o [meu] gabinete fez a indicação de onze municípios pequenos com essas características. Foi bem em cima da hora. A gente não teve tempo de fazer o trabalho, o rastreamento. Coube à liderança do PSL fazer essa distribuição, beneficiando mais os deputados bolsonaristas”, ressaltou Bozzella, dizendo ter sido um dos “menos contemplados” pela quantia.
Eleições da Câmara
Conforme a entrevista, o deputado disse que as ofertas de recursos do suposto “orçamento paralelo” para quem apoiasse a candidatura do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ocorreram de forma “escancarada”. “Mas a cada pauta, a cada discussão, a cada revisão de orçamento, em todas essas discussões, são sempre levadas em conta as emendas extras que são apresentadas a deputados e senadores”, afirmou.
Quando foi questionado se o Planalto requisitou apoio do presidente da Casa ao liberar essas verbas, Bozzella alegou que “cada caso tem um acordo específico”. “Numa determinada votação, liberação de ‘x’ milhões para aquela votação. A última (liberação) que teve foi por causa do auxílio emergencial. Aí teve mais um quantitativo para a eleição do Arthur [Lira]”.
Na ocasião, Bozzella também revelou que, na época em que Bolsonaro integrava o partido, buscava o controle da sigla, mas também o financeiro. Segundo ele, o presidente queria que o diretório paulista – comandado por Eduardo Bolsonaro na época – recebesse um “volume enorme” do fundo partidário todo mês.
O ex-aliado de Bolsonaro rompeu com o presidente em 2019 após racha interna no PSL. De acordo com Bozzella, ele também foi ameaçado “algumas vezes” pela família do presidente, chegando a receber escoltas da Polícia Legislativa.