William Bonner está de saída do Jornal Nacional. Depois de quase trinta anos à frente da bancada, o jornalista mais reconhecido da televisão brasileira encerra um ciclo que ultrapassa o campo profissional. Sua despedida não é apenas o fechamento de uma trajetória brilhante, mas uma metáfora da própria vida — essa sequência de inícios, meios e fins que nenhum de nós escapa.

Desde 1996, Bonner foi o rosto do Brasil às oito e meia da noite. O país podia mudar de governo, de moeda, de humor ou de esperança, mas ali estava ele, com o mesmo tom de voz e a mesma postura. Tornou-se parte da rotina nacional. O Jornal Nacional, mais do que um telejornal, era um ritual coletivo: milhões de brasileiros, em todas as regiões, paravam para ouvir o resumo do dia pela voz que se confundiu com a própria história do país.
Bonner foi mais do que um âncora. Foi o narrador da vida pública brasileira em tempos de turbulência. Viu o Brasil atravessar crises, escândalos, tragédias e reconstruções. Anunciou vitórias e derrotas, enterrou presidentes e apresentou novos. Resistiu às mudanças da mídia, às redes sociais, à corrosão da credibilidade e à polarização política que transformou até o noticiário em campo de batalha ideológica. Em meio a tudo isso, permaneceu.
Agora, decide sair. Não por fadiga, mas por compreensão. Porque chega o momento em que até as figuras mais sólidas percebem que o tempo é o verdadeiro editor de todas as histórias. E é aí que a trajetória de Bonner se encontra com a metáfora da vida: há um instante em que se entende que o protagonismo precisa dar lugar à sucessão, que a permanência sem transformação se torna peso.
Ao longo de quase trinta anos, o Jornal Nacional se moldou à sua imagem. A ponto de muitos confundirem o telejornal com o próprio apresentador. Quando ele se despede, é como se parte da memória coletiva do país também se retirasse da tela. Bonner não sai apenas da bancada. Sai de um tempo — o tempo da televisão que ainda unia o Brasil em torno de uma só voz.
A partir de novembro, César Tralli assume o posto. Competente, carismático, querido pelo público, mas herdeiro de uma tarefa ingrata: suceder aquele que transformou o cargo em personagem da história nacional. Pela idade, é improvável que Tralli permaneça tanto tempo quanto Bonner. E talvez isso simbolize a própria efemeridade dos novos tempos, em que nada — nem o prestígio — dura por décadas.
A saída de William Bonner encerra o ciclo mais longo do telejornalismo brasileiro e nos lembra que tudo, até o que parece imutável, tem um fim. Como Cid Moreira antes dele, Bonner entra para a galeria dos que não apenas apresentaram notícias, mas ajudaram a contá-las com a voz da própria época.
A vida é feita de ciclos. E cada ciclo termina quando o próximo está pronto para começar. Bonner, ao sair, nos ensina isso com elegância: que saber a hora de encerrar um capítulo também é uma forma de grandeza.
Por: Napoleão Soares








