Policiais federais relatam um clima tenso na corporação nesta segunda-feira, 24, após a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson — que recebeu uma equipe da instituição a tiros e granadas em sua casa no domingo, 23. De forma reservada, agentes afirmam que a iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de mandar o ministro da Justiça, Anderson Torres, acompanhar o caso não agradou e foi considerada uma interferência indevida.
O ministro acabou não indo à casa de Jefferson em Comendador Levy Gasparian, cidade do interior do Rio de Janeiro, mas disse que acompanhou os trabalhos da delegacia da PF em Juiz de Fora (MG). Um dos policiais ouvidos por VEJA afirma que a sensação é a de que Bolsonaro desprestigiou o trabalho da corporação e deu tratamento privilegiado ao ex-deputado.
Os agentes também avaliam que a interferência do presidente prejudicou a ação, já que, no tempo de espera pela chegada do ministro, a cena do crime pode ter sido alterada, dificultando a coleta de possíveis provas. “Quando você manda um ministro da Justiça para acompanhar algum caso, seja ele qual for? Nem na prisão do Lula isso ocorreu. Foi uma tentativa de utilização indevida da PF”, diz um policial.
Os servidores, no entanto, divergem sobre a postura de Vinícius Secundo, agente de operações táticas da PF no Rio, que aparece em um vídeo conversando amigavelmente com Jefferson após o político ter atirado contra seus colegas. “O que o senhor precisar, a gente vai fazer”, disse. Parte dos policiais defende a justificativa de Secundo, de que estava “vestindo um personagem” para ganhar a confiança de Jefferson.
Outros agentes, no entanto, dizem que a situação já estava sob controle e que Jefferson estava desarmado, então não seria necessário agir dessa forma. “Concluímos que se ele realmente vestiu esse personagem, não foi apenas para vencer as resistências do ex-deputado em fúria, mas também para agradar outras pessoas, muito provavelmente o presidente e o ministro da Justiça”, diz um delegado aposentado da PF.
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