“Vai ter mulher, vai ter negros, vai ter índio”. Esta frase foi dita por Lula no último dia 9, quando fez o anúncio dos nomes de seus 5 primeiros ministros, todos homens: Fernando Haddad (Fazenda), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), José Múcio (Defesa), Rui Costa (Casa Civil) e Mauro Vieira (Relações Exteriores). Com um compromisso pessoal observado por aliados e pela imprensa, além da necessária pressão social oriunda de sua própria base de apoio, a composição final do quadro de ministros que assumirá a partir do dia 1º de janeiro tem aprocumadamente 30% de mulheres.
Se houvesse cota de participação feminina no primeiro escalão espelhada na legislação que rege a formação das chapas proporcionais, Lula a teria cumprido. Mas não é só isso. Nunca antes na história deste país tantas mulheres ocuparam o cargo de ministra. O governo Dilma Rousseff (PT) chegou a indicar 10 mulheres para as pastas.
As 11 ministras
Agora são 11 ministras em um total de 37 pastas. Oriundas de diferentes regiões do país e com colorações partidárias diversas, muitas assumirão pastas estratégicas, seja pelo orçamento do ministério comandado, pela sua relação com o desenvolvimento do país ou por questões simbólicas que se tornaram centrais no último período.
Após uma novela repleta de idas, vindas e inúmeras reuniões, Simone Tebet (MDB) foi anunciada no Ministério do Planejamento, posicionando-se, ao lado de Haddad, no centro do debate sobre os rumos do governo Lula: a política econômica. A senadora e ex-candidata à presidência da república dispensa apresentações. Também não é preciso explicar quem é Marina Silva (Rede). Ela foi a 13ª Ministra do Meio Ambiente do Brasil, entre 2003 e 2008, durante os dois primeiros governos Lula, e tornará a ser ministra da pasta a partir de 2023. O tema tem importância internacional crescente e vem sendo tratado como prioridade por Lula.
Simbolismo
No campo das indicações simbólicas, a deputada federal eleita pelo PSOL de São Paulo e coordenadora nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, comandará uma nova pasta, a dos Povos Originários. Participante do grupo técnico de transição sobre o tema, ela já tem proposta de criar o Fundo Bioma Indígenas (FBI), voltado a captar e gerir recursos nacionais e internacionais – além dos recursos públicos – com a finalidade de proteger florestas e biomas. No último dia 19 Guajajara concedeu uma entrevista exclusiva à Fórum em que falou mais sobre o tema e também sobre sua infância, adolescência, estudos e militância política.
Ainda no campo do simbolismo e com um desafio do tamanho de sua formação, Anielle Franco vai encarar a pasta da Promoção da Igualdade Racial. “Educadora, jornalista, escritora, feminista preta, mãe de meninas, doutoranda, diretora do Instituto Marielle Franco”. Assim Anielle descreve a si mesma em suas redes sociais. Irmã de Marielle Franco, cria da Maré e diretora executiva do instituto que leva o nome da vereadora assassinada em 2018, a futura ministra tem 38 anos e declarou que pretende atuar por meio do diálogo com a sociedade civil.
Expertise
Artista, nordestina e mulher negra, Margareth Menezes cumprirá o desafio de conduzir as políticas de um setor ao mesmo tempo estratégico e simbólico: o Ministério da Cultura. Aos 60 anos, além de cantora, ela é compositora e fundadora da Fábrica Social, ONG sediada na Bahia e que atua no fomento à cultura. Além disso, tem mais de 10 álbuns lançados, indicações ao Grammys e dezenas de turnês internacionais. Além da retomada de políticas públicas voltadas para a cultura, o MinC, sob a gestão de Lula, terá o maior orçamento de sua história.
Um artista na cultura, uma atleta nos Esportes. Ana Beatriz Moser, uma das principais atacantes da história do vôlei brasileiro, será ministra. Como atleta ajudou a seleção a trazer a primeira medalha olímpica na modalidade, o bronze em Atlanta, em 1996 e foi medalha de ouro em diversas outras competições. Sem uma trajetória política e institucional constituída, Ana Moser foi convidada para integrar o Grupo de Trabalho de Esportes do Gabinete de Transição em sua “estreia” no poder público. No âmbito social, integra a ONG Atletas pelo Brasil, que reúne atletas e ex-atletas de diferentes gerações e modalidades pela melhoria do esporte e avanços sociais no país. Rogério Ceni, Cafu e Hortência também integram a organização.
Estratégico
Além de Margareth na Cultura, outra mulher negra e nordestina assume um ministério, este com orçamento modesto, mas importância estratégica ao desenvolvimento do país. Luciana Santos (PCdoB) será Ministra da Ciência e Tecnologia. Primeira mulher a ocupar o cargo de vice-governadora de Pernambuco (2018-22) e ex-secretária estadual de Ciência e Tecnologia, a engenheira eletricista se afastará de sua tarefa atual, como presidenta nacional de seu partido, para se dedicar de forma exclusiva à gestão.
Já o maior orçamento de todos os Ministérios, com ações presentes em todas as cidades do país durante todo o ano ficará com uma craque da área. Nísia Trindade, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), será a Ministra da Saúde do terceiro governo Lula. É a primeira vez na história que uma mulher assume o cargo. Nísia Trindade é doutora em Sociologia (1997), mestra em Ciência Política (1989), pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj – atual Iesp), e graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/ 1980). A pesquisadora está na presidência da Fiocruz desde 2017, atualmente, ela cumpre o segundo mandato.
Como se especulava, o Ministério do Turismo irá para um quadro do estado do Rio de Janeiro, mas não será nenhum dos nomes previamente especulados. Daniela Moté de Souza Carneiro mora em Belford Roxo (RJ) e tem 46 anos de idade. É mais conhecida como Daniela do Waguinho, em referência ao marido, Wagner dos Santos Carneiro, o atual prefeito da cidade. A pedagoga foi eleita pela segunda vez deputada federal pelo União Brasil em 2022, sendo a deputada mais votada do estado.
A economista Esther Dweck (PT) comandará o Ministério da Gestão. Ela foi secretária de Orçamento do Ministério do Planejamento, na gestão da ex-ministra Miriam Belchior (2011–2015), durant eo governo Dilma Rousseff. Belchior, por sua vez, será secretária-executiva da Casa Civil de Lula. Na atual equipe de transição de governo, Esther participou do grupo técnico de Planejamento e Orçamento. O novo ministério é uma pasta mais técnica, voltada a cuidar da gestão de governo. De acordo com a versão simplificada, correndo o risco de ser reducionista, de alguns veículos, funcionaria como uma espécie de RH do governo.
Por fim, o primeiro ministério dedicado exclusivamente a políticas para mulheres será comandado por mais um quadro de Mato Grosso do Sul. Aparecida Gonçalves, mais conhecida como Cida Gonçalves, a especialista em gênero e violência contra mulher ocupou o cargo de secretária nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres nos governos de Lula e Dilma Roussef (PT).
Confira a lista da 11 ministras e suas pastas:
Planejamento – Simone Tebet: MDB – MS
Meio ambiente – Marina Silva: Rede – AC
Povos Indígenas – Sônia Guajajara: PSOL – SP
Ministério da Igualdade Racial – Anielle Franco: PT – RJ
Ministério da Cultura – Margareth Menezes: Sem partido – BA
Esporte – Ana Moser: Sem partido – SP
Ministério da Ciência e Tecnologia – Luciana Santos: PCdoB – PE
Ministério da Saúde – Nisia Trindade: Sem partido – RJ
Turismo – Daniela Souza Carneiro: União Brasil -RJ
Ministério da Gestão – Esther Dweck: PT – RJ
Ministério da Mulher – Cida Gonçalves: PT – MS
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