Os advogados de defesa dos denunciados no inquérito do golpe tentaram anular a delação de Mauro Cid, mas investigadores da Polícia Federal (PF) destacam que as provas colhidas são até mais fortes do que o conteúdo da colaboração do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A tentativa foi recusada de forma unânime, mas o ministro Luiz Fux se reservou o direito de analisar o caso mais à frente, durante a fase de ação penal, por causa das idas e vindas de Mauro Cid.
Na avaliação da PF, os advogados buscam desconsiderar “todo conjunto probatório para tentar focar exclusivamente na delação” de Mauro Cid.
Os investigadores rebatem ainda a afirmação do advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, de que, na fase final, o tenente-coronel só fez corroborar teses da Polícia Federal.
A equipe da PF não concorda e diz que Mauro Cid confirmou provas colhidas pela investigação, sendo obrigado a falar de temas sobre os quais não teria tratado até então.
A delação de Mauro Cid, de fato, foi polêmica. Em dado momento, ele correu o risco de perder os benefícios da colaboração porque a PF o acusou de omitir informações, como não dar informações inicialmente sobre o envolvimento do general Braga Netto no planejamento da tentativa de golpe.
Retomada do julgamento
Nesta quarta-feira (26), o STF retoma o julgamento depois de rejeitar todos os recursos dos advogados de defesa dos oito denunciados no núcleo crucial, entre eles os pedidos para anular a delação de Mauro Cid, tirar da Primeira Turma o julgamento e cerceamento da defesa.
Ficou para esta quarta (26) a votação se os cinco ministros vão acolher ou não a denúncia.
A sessão desta terça só reforçou entre advogados e denunciados a avaliação de que os oito denunciados no “núcleo crucial” serão transformados em réus e que uma ação penal será aberta para definir se serão condenados ou não pela acusação de tentativa de golpe de Estado no país.
A expectativa é de uma votação unânime para transformar todos os oito denunciados em réus. Alguns advogados, na saída da sessão de ontem, admitiram isso publicamente diante do resultado do primeiro dia de julgamento.
Presente à sessão da Primeira Turma para criar um fato político para seus apoiadores, o ex-presidente Jair Bolsonaro acabou sendo obrigado a ouvir o ministro Alexandre de Moraes dizer que é falsa a “narrativa” de que o Supremo Tribunal Federal está condenando “velhinhas com a Bíblia na mão”.
Bolsonaro, em alguns momentos, encarou o relator do seu inquérito, mas acabou passando mais momentos de constrangimentos quando ministros relataram a sua atuação na difusão de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas como planejamento de uma tentativa de golpe no país.
Alexandre de Moraes fez questão de mandar projetar num telão um balanço dos julgamentos para mostrar que bolsonaristas difundem uma narrativa falsa sobre quem está sendo condenado pelos atos golpistas de 8 de janeiro e que todos estão recebendo penas rigorosas.
O ministro apresentou um balanço das condenações envolvendo o tema, destacando que, em 497 ações penais julgadas que resultaram em condenação, 240 pessoas foram condenadas a penas de 1 ano, com 102 condenados a penas de 14 anos, 58 condenados a 16 anos e 6 meses e 44 condenados a penas superiores ou iguais a 17 anos de prisão.
Segundo o balanço do ministro, dos 497 condenados, apenas sete têm mais de 70 anos. E que 91% dos condenados têm até 59 anos. Entre 60 e 69 anos, 36,7%. Entre 70 e 75 anos, 7,2%. Destacou ainda que 32% dos condenados são mulheres e 68%, homens.
G1