A entrevista do governador João Azevêdo ao programa Hora H, de Heron Cid, foi o retrato fiel do estilo que ele tem adotado desde que chegou ao Palácio da Redenção: paciência, cautela e discurso calculado. Quando perguntado sobre a disputa entre Lucas Ribeiro e Cícero Lucena, João lavou as mãos ou melhor, passou a bola para o Progressistas.
A resposta, embora esperada, não deixa de gerar desconforto. A essa altura do jogo, com os bastidores em ebulição, muita gente na base esperava mais que um “isso é problema do partido”. Não que ele esteja errado: formalmente, é mesmo uma questão do Progressistas. Mas na prática, todo mundo sabe que a palavra final ou pelo menos a mais importante, será a do próprio João.
João tenta manter a base coesa, e está certo nisso. A oposição está de olho num possível racha, torcendo para que Cícero e Lucas acabem em lados opostos. Por isso, qualquer gesto fora do tom pode virar crise. Só que, ao segurar demais essa definição, o governador corre o risco de deixar a base ansiosa, e essa ansiedade pode virar ruído ou até rompimento.
Hoje, João tem tudo na mão: uma gestão bem avaliada, um grupo político forte e o apoio declarado do presidente Lula e do PSB nacional para uma possível candidatura ao Senado. Mas a liderança dele vai ser testada na capacidade de arbitrar essa disputa interna sem que ninguém saia ferido.
Outro ponto importante da entrevista foi quando ele falou sobre Veneziano. De forma elegante, mas firme, João praticamente fechou a porta para qualquer reaproximação com o senador. Disse que “na política nada é impossível”, mas deixou claro que vê incoerência entre o discurso de Veneziano em Brasília e suas alianças locais com grupos bolsonaristas. É o recado mais claro que já deu nesse sentido.
João está jogando parado. E talvez esse seja mesmo o estilo que o trouxe até aqui. Mas o jogo da sucessão está andando, com ou sem ele. E cedo ou tarde, vai ser preciso escolher um lado, mesmo que o discurso seja de consenso.
Enquanto isso, o relógio da política não para. E o grupo todo está olhando para ele, esperando o apito final.
Por: Napoleão Soares