Para Donald Trump, “o Dia da Independência dos Estados Unidos” será em 20 de janeiro, quando assumirá o cargo de presidente pela segunda vez para cumprir suas promessas de campanha: deportar milhões de imigrantes, excluir pessoas transgênero das Forças Armadas, impor tarifas alfandegárias mais altas, acabar com a guerra na Ucrânia, reduzir impostos e perdoar centenas de apoiadores seus que foram presos após invadirem e depredarem o Capitólio em 2021.
Analistas afirmam que esse programa de governo provocaria uma convulsão sem precedentes nos EUA e no mundo, embora seja difícil de cumprir. Saiba o que esperar de Trump 2.0:
Trump, que chama de “invasão” a entrada de imigrantes sem visto no território americano e os acusa de envenenar “o sangue” do país, prometeu lançar o “maior esforço de deportação da História dos Estados Unidos”. Ele também quer acabar com o direito à cidadania por nascimento aos filhos de imigrantes irregulares, que considera “ridículo”.
É provável que ele aja rapidamente para implementar essa política, carro-chefe de sua campanha como medida a ser tomada no primeiro dia de governo. Mas uma rápida remoção de tantas pessoas enfrentará obstáculos, desde a logística básica até desafios legais e políticos.
Além do custo humano, a expulsão de milhões de trabalhadores, que frequentemente realizam ofícios de pouca qualificação, teria um forte impacto na economia do país, especialmente para os setores de construção, hotelaria e varejo. Além disso, também pode favorecer cartéis do México.
Calcula-se que cerca de 11 milhões de pessoas viviam em situação irregular nos Estados Unidos em 2022. Para pôr fim a essa situação, Trump planeja declarar estado de emergência nacional assim que tomar posse e mobilizar o Exército.
Trump prometeu impor novas tarifas pesadas, visando a uma taxa de 25% sobre todos os produtos estrangeiros e 60% ou mais sobre os produtos provenientes da China. Na campanha eleitoral, ele também ameaçou impor tarifas ainda mais altas sobre países e produtos específicos.
“Em 20 de janeiro, como uma das minhas primeiras ordens executivas, assinarei todos os documentos necessários para cobrar do México e do Canadá uma tarifa de 25% sobre TODOS os produtos que entrarem nos Estados Unidos e suas ridículas fronteiras abertas”, escreveu Trump no fim de novembro em sua rede Truth Social.
Como presidente, ele não precisa consultar o Congresso para impor as tarifas prometidas, já que uma lei de 1977 lhe dá autoridade para impor tarifas em casos de uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional, à política externa ou à economia dos EUA”. Mas tanto o México quanto o Canadá estão vinculados aos EUA por um acordo de livre comércio, então é válido perguntar se a ameaça é real ou se Trump está tentando pressionar mexicanos e canadenses antes de iniciar negociações.
Como alternativa, Trump também poderia usar outras disposições legais que invocou em seu primeiro mandato para aumentar algumas tarifas, mas que requerem um período de comentários públicos, o que acarretaria um atraso na implantação da medida.
Uma das principais metas de Trump é o corte de impostos, que dependem da aprovação do Congresso, dominado pelos republicanos. No entanto, a agenda econômica do novo governo pode muito bem estimular o crescimento e a inflação, afirmam especialistas. Os investidores reagiram à sua vitória com a venda de títulos do Tesouro dos EUA, o que levou uma série de economistas a repensar suas expectativas sobre a rapidez com que o FED, o Banco Central americano, continuará a reduzir as taxas de juros em 2025. Por outro lado, há dúvida sobre o que o republicano poderia fazer para influenciar mais diretamente o Banco Central. É vedado por lei ao presidente dos EUA o poder de demitir ou rebaixar qualquer um dos chefes sênior do FED, isto é, seu presidente e vice-presidentes.
Em 6 de janeiro de 2021, uma multidão de apoiadores de Donald Trump invadiu o Capitólio para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden. Quase 1.500 das pessoas detidas foram processadas e mais de 900 condenadas, segundo números divulgados em agosto pelo promotor do distrito de Columbia. Em março, quando ainda era candidato presidencial, Trump afirmou que uma de suas primeiras decisões, caso vencesse, seria “libertar os reféns presos injustamente” no dia 6 de janeiro.
Antes mesmo de assumir a Presidência, Trump já colheu sua primeira vitória diplomática. Na quarta-feira, Israel e Hamas alcançaram finalmente um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns após 15 meses de um conflito devastador. O anúncio veio após forte pressão dos países mediadores (EUA, Catar e Egito) e de inúmeras declarações feitas por Trump de que não estava disposto a herdar o conflito na Faixa de Gaza — ainda que tenha reiterado seu apoio a Israel.
“Se os reféns não forem libertados antes de 20 de janeiro de 2025, a data em que assumirei com orgulho o cargo de Presidente dos Estados Unidos, pagarão caro no Oriente Médio e aqueles que perpetraram essas atrocidades contra a Humanidade”, escreveu Trump em dezembro em sua plataforma Truth Social.
Durante a campanha presidencial, Trump também apelou por um “cessar-fogo imediato” na Ucrânia e prometeu acabar com a guerra “em 24 horas” após assumir a Casa Branca, embora não tenha dito como faria isso. No início deste mês, ele afirmou que está organizando uma reunião com o líder russo, Vladimir Putin, para “colocar fim” ao conflito, desencadeado em fevereiro de 2022 pela invasão russa.
Autoridades europeias temem que a volta do republicano ao poder represente uma redução drástica ou total do apoio militar dado pelos EUA à Ucrânia, do qual as forças ucranianas dependem fortemente. O presidente Volodymyr Zelensky também tem expressado o receio de que uma trégua mediada pelos EUA implique em perdas territoriais para o seu país.
O retorno de Trump ao poder ameaça colocar em risco os esforços globais para combater as mudanças climáticas provocadas pelo homem. “Drill, baby, drill” (Perfure, querida, perfure), tem sido o lema repetido várias vezes por ele, um negacionista da mudança climática que quer impulsionar a extração de combustíveis fósseis, que já bate recordes.
— Temos mais ouro líquido do que qualquer país do mundo — afirmou o presidente eleito dos Estados Unidos, o segundo país que mais polui, atrás da China.
Durante seu primeiro mandato, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris sobre o clima. O país voltou ao tratado por iniciativa do presidente em fim de mandato, Joe Biden.
No fim de dezembro, Trump prometeu “deter a loucura transgênero” e disse que excluirá os transgêneros das Forças Armadas e das escolas de educação primária e secundária.
— A política oficial dos Estados Unidos será que só existem dois gêneros, masculino e feminino — afirmou Trump, que governará um país dividido sobre questões sociais.
O Globo