O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, reforçou ameaças nucleares contra o Ocidente e seus aliados regionais horas depois de um novo lançamento de míssil balístico intercontinental. O caso gerou uma mistura de tensões diplomáticas, depois de a Rússia acusar os Estados Unidos de “testarem a paciência” de Pyongyang.
Após o artefato cair na costa do Japão, o vice-chanceler russo Serguei Riabkov disse à agência de notícias RIA nesta sexta (18) que o Kremlin acompanha a situação com preocupação e se mantém “fiel a uma solução diplomática” para a península coreana, mas cutucou Washington. “Os EUA e seus aliados na região preferem um caminho diferente, como se estivessem testando a paciência de Pyongyang.”
Quando ainda era noite de quinta no Brasil, a Coreia do Sul anunciou que detectou o lançamento de “um suposto míssil balístico intercontinental” disparado da área de Sunan, em Pyongyang.
Segundo o Exército de Seul, o artefato, que é a arma de maior alcance da ditadura do Norte, percorreu uma distância de cerca de 1.000 quilômetros a uma altitude máxima de 6.100 quilômetros e caiu no mar, na zona econômica exclusiva do Japão, a cerca de 200 km da ilha de Hokkaido. O premiê japonês, Fumio Kishida, afirmou que os seguidos disparos feitos por Pyongyang são intoleráveis.
O lançamento foi feito menos de 24 horas após o disparo de um míssil de curto alcance, na quinta (17), no que o regime de Kim Jogn-un chamou de “resposta mais feroz” aos esforços dos EUA para aumentar a presença militar na região. Segundo comunicado norte-coreano, em tom de ameaça, Washington está fazendo uma “aposta da qual se arrependerá”.
Horas mais tarde, já na manhã local de sábado (19), a rede estatal KCNA relatou que o próprio Kim supervisionou o exercício, ao lado da mulher e da filha, e que o míssil é de um modelo recém-desenvolvido.
O ditador exortou o desenvolvimento de armas estratégicas e treinamento de unidades nucleares táticas e disse que tem acelerado esse processo como forma de dissuasão frente a hostilidades americanas. “Se as ameaças dos inimigos continuarem, responderemos com confronto e armas nucleares. Movimentos contra a Coreia do Norte levarão à autodestruição”, disse, segundo a KCNA.
A ditadura norte-coreana já realizou em 2022 mais de 40 lançamentos, renovando ameaças da forma mais intensa desde 2017. No começo do mês, um disparo chegou a gerar alerta de abrigo a moradores de partes do Japão. Um dos projéteis usados no teste aparentemente era um míssil intercontinental que falhou.
Ainda nesta sexta, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que o míssil disparado por Pyongyang não ameaça os EUA, ainda que, segundo a agência de notícias Reuters, o artefato possa atingir a parte continental do país.
Mais cedo, a vice-presidente Kamala Harris disse que o teste “desestabiliza a segurança na região e aumenta desnecessariamente as tensões”. O comunicado foi feito às margens de uma cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) em Bancoc, após reunião entre Kamala e autoridades de Austrália, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Nova Zelândia –principais aliados dos americanos na região.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também condenou o lançamento, instando Pyongyang a desistir de tomar ações de provocação.
No último dia 12, em uma reunião com o líder chinês, Xi Jinping, o presidente americano, Joe Biden, reforçou a mensagem de que, se a Coreia do Norte seguir com os lançamentos de mísseis, a presença dos EUA na região será maior.
No mês passado, Washington reagiu ao disparo de um míssil de alcance intermediário que sobrevoou o Japão com o envio de um porta-aviões para a região e exercícios de bombardeio com japoneses e sul-coreanos. Pyongyang revidou com mais mísseis balísticos e treinos com caças.
REUNIÕES ENTRE AS DUAS POTÊNCIAS
Na mesma entrevista em que acusou os EUA de testarem a paciência dos norte-coreanos, e a poucos dias de uma reunião marcada no Cairo entre Moscou e Washington para discutir a questão da proliferação nuclear, Riabkov acrescentou que não descarta novos encontros de alto nível sobre o que chamou de estabilidade estratégica. “Se os americanos mostrarem interesse e prontidão, não recusaremos”, afirmou.
O termo “estabilidade estratégica” é usado pelas duas maiores potências nucleares do mundo em referência à redução do risco de uma guerra nuclear.
O encontro na capital egípcia, previsto para o período de 29 de novembro a 6 de dezembro, tem o objetivo de discutir o tratado Novo Start de redução de armas nucleares.
Quando o assunto é a Guerra da Ucrânia, porém, Riabkov já havia sinalizado anteriormente que não havia nada para conversar com os EUA. “Simplesmente não pode haver diálogo, muito menos negociações, dadas as posições opostas radicais”, disse à Interfax.
Folha