A política demora a entender, mas o conceito real da boa administração pública pressupõe que ela seja repleta de ações de estado, não de governo. Eu me dei conta disso nesta sexta-feira (29), quando elogiei o fato de o prefeito Cícero Lucena (Progressistas) ter resgatado uma experiência da gestão anterior dele, o programa “Remédio em casa”. A prática é de pouco mais de uma década atrás, mas soa e se revela como moderna. Por ela, é possível atender a um público com doenças crônicas e dificuldade de mobilidade e que é cada vez maior. Todos os cadastrados, agora, podem receber o remédio sem precisar sair de casa.
Mas se é um programa positivo, por que se perdeu no tempo? A resposta é simples: por conveniência política, assim como também ocorreu com o convênio do Balé Bolshoi, a entrega de medicamentos foi descontinuada nas gestões de Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo. E isso ocorreu não porque eram más iniciativas, mas por serem marcas que lembravam positivamente as gestões anteriores. Isso segue muito a máxima mesquinha da política de buscar apagar o mandatário que deixou o poder. É como se fosse possível eliminar o benefício da memória de quem foi contemplado. Mas a bem da verdade, a prática apenas penaliza os usuários da política pública.
Só com o programa Remédio em Casa, são 60 mil pessoas cadastradas para receber os medicamentos regulados pela Secretaria de Saúde. E isso não é importante? Lógico que é. Da mesma forma, emociona ouvir os depoimentos de jovens que foram beneficiados com com aulas do Balé Bolshoi e hoje brilham nos palcos do mundo todo. Meninos e meninas que vieram de regiões da cidade mais vulneráveis ou tomadas pelo tráfico de drogas e conseguiram uma vida diferente. Todos graças a uma oportunidade recebida e que eles, com afinco, tiraram proveito.
Um dos relatos feitos nesta semana foi de um jovem que brilha nos palcos pelo mundo a fora e que serve de incentivo para novos alunos, no programa retomado. O pai dele era envolvido com o tráfico de drogas. Qual seria o destino dele hoje? Dificilmente seria diferente do pai. A retomada dos programas serve, portanto, para que tenhamos novas oportunidades de mudança de vida para cada uma dessas crianças. Por isso, não custa enfatizar que as obras e ações desenvolvidas pela prefeitura são obras comuns e não devem ser jogadas no lixo. Quem quiser fazer a diferença, precisa ter visão mais republicana da administração pública.
Algo como ocorreu nesta semana, com a ida do prefeito à Câmara Municipal de João Pessoa. Lá, diante dos vereadores, o gestor garantiu a ampliação das emendas impositivas. A lei foi aprovada ainda quando o prefeito da capital era Luciano Cartaxo, mas ele nunca obedeceu o ordenamento jurídico. Este ano, portanto, foi o primeiro em que a escuta dos vereadores junto à população foi atendida pelo chefe do Executivo. Para 2021, foram R$ 13,5 milhões. Já em 2022, os vereadores indicarão R$ 18,5 milhões em investimentos, com metade indo para o setor da saúde.
Suetoni Solto Maior