Em 2024, o Brasil alcançou uma marca que ninguém gostaria de celebrar: o pior índice de corrupção da sua história, segundo a Transparência Internacional. O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) caiu para 34 pontos, o que colocou o país na 107ª posição entre 180 países – uma queda dolorosa comparada aos 36 pontos e à 104ª posição de 2023. A cada ano que passa, parece que a luta contra a corrupção no Brasil se torna mais difícil de ser travada.
É impossível não olhar para esse dado e sentir um aperto no peito. Não estamos falando apenas de números frios em um relatório. Estamos falando de como o mundo nos enxerga e de como a percepção da corrupção afeta diretamente a confiança da população nas suas instituições. A pesquisa não avalia apenas os escândalos públicos, mas o que o país transmite a especialistas e ao mercado sobre a sua capacidade de combater a corrupção.
A explicação dos especialistas sobre esse declínio é preocupante. Em sua análise, a Transparência Internacional aponta, entre outros fatores, a falta de ações claras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no combate à corrupção, a falta de transparência em projetos como o Novo PAC, e a crescente influência do Centrão nos processos políticos, que continuam a marcar a política nacional. O governo, por sua vez, rebate a avaliação, argumentando que a exposição e investigação de casos de corrupção afeta negativamente a percepção do país, o que é um ponto válido em parte, mas não pode ser desculpa para um quadro tão alarmante.
O que mais nos assusta não é só a queda em si, mas a constatação de que estamos vivendo um processo de captura do Estado, como bem alertou Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil. Ou seja, o crime organizado já começa a tomar conta de espaços decisivos, influenciando diretamente as políticas públicas. E isso, claro, tem impactos profundos na qualidade da democracia e na confiança do povo nas instituições que deveriam protegê-lo.
E isso nos leva a um ponto ainda mais crítico: a falta de um movimento claro e contundente de mudança. Precisamos, urgentemente, reverter essa trajetória. O Brasil está se afastando cada vez mais das melhores práticas internacionais de combate à corrupção. Nos países com boas práticas de governança, como Dinamarca e Finlândia, a transparência e o combate à corrupção são prioridades constantes. Aqui, parece que a corrupção, em vez de ser extirpada, se reinventa a cada novo governo, com mecanismos que garantem sua perpetuação.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso olhar para o que a sociedade civil tem feito para tentar mudar essa realidade. Movimentos anticorrupção, uma imprensa que denuncia e instituições como a Controladoria-Geral da União (CGU) tentam cumprir seu papel, apesar das limitações e críticas que recebem. O Brasil tem, sim, boas práticas e ações em alguns campos. Mas elas estão longe de ser suficientes quando olhamos para o cenário geral e a percepção que se tem do país no exterior.
O fato é que a corrupção no Brasil não é uma questão de um ou outro escândalo, mas sim uma prática sistêmica que envolve várias camadas da sociedade e do governo. E enquanto continuarmos ignorando esse fato e tratando a corrupção como algo pontual ou episódico, a trajetória negativa do Brasil no Índice de Percepção da Corrupção tende a se aprofundar.
É hora de uma reflexão coletiva. O Brasil precisa, mais do que nunca, de um movimento de mudança real. Não basta apenas criticar ou defender-se dos índices. É preciso ação, e uma ação que vá além do discurso e se transforme em práticas concretas de transparência, combate à impunidade e reforço da confiança na democracia.
Se o Brasil não mudar o seu caminho, em breve, os números não serão mais apenas uma simples estatística. Eles serão um reflexo do nosso fracasso coletivo em enfrentar o maior desafio de governança do país: a corrupção.
Por: Napoleão Soares