Nesses quase 13 anos avaliando carros usados, escutei muitas vezes o dono se orgulhar em dizer que seu carro é tão bom que nunca precisou fazer nada, apenas trocas de óleo.
Estaria tudo bem escutar isso a respeito de um carro com baixa quilometragem, que, em tese, não exige mais do que troca de óleo e filtros nas primeiras revisões.
Contudo, é preocupante quando estamos falando de automóveis com mais de 100 mil km rodados e vários anos de uso.
Não tem como levar a sério alguém que não faz manutenções em um veículo com alta quilometragem e pretende vendê-lo – tal prática indica total falta de cuidado por parte do dono, o qual acredita que carro só precisa de combustível para rodar. São esses os que costumam dar dor de cabeça para o próximo proprietário.
Qualquer carro exige mais manutenções do que apenas a substituição do óleo, sendo que algumas precisam ser verificadas no momento de consultar o manual.
A seguir, aponto algumas das manutenções mais negligenciadas, mas que devem ser feitas em algum momento da vida de um carro. Também servem como dicas para você negociar melhor quando estiver comprando um carro usado.
Troca de óleo de câmbio automático

Não deveria, mas esse é um assunto polêmico. Em pleno 2025, ainda há quem defenda que não é necessário trocar o óleo de um câmbio automático.
Mas basta visitar uma oficina especializada nesse tipo de transmissão para constatar a grande quantidade de veículos com problemas que poderiam ser evitados com a troca preventiva do respectivo lubrificante. Os valores desses reparos assustam, muitas vezes passando dos R$ 10 mil.
É verdade que os manuais dos carros não ajudam.
Alguns não são claros quanto ao cronograma de manutenção e informam apenas a necessidade da inspeção periódica.
Entretanto, basta observar com mais atenção, na parte que trata sobre uso severo, que provavelmente vai haver alguma recomendação para troca, que pode variar de fabricante para fabricante.
Geralmente, o prazo recomendado para troca varia entre 80 mil e 100 mil km, mas algumas marcas são ainda mais conservadoras e recomendam substituição a cada 40 mil km, nem que seja apenas parcial.
Sobre o uso severo, é algo subjetivo de se classificar. Na minha concepção, todo carro passa por uso severo, mesmo que seja só em alguns momentos. Ainda mais quando consideramos que essas trocas são feitas em longos intervalos, muitas vezes quando o veículo já passou por mais de um dono. Sendo assim, não vejo como saber com exatidão como um carro foi utilizado. Portanto, na dúvida, o melhor é sempre seguir o cronograma de manutenção de uso severo.
É fato: quem deixa a polêmica de lado e simplesmente troca o óleo após a aquisição de um veículo tem menos chances de quebras do câmbio.
Troca da correia dentada

Para o bom funcionamento de um motor a combustão, é necessário o perfeito sincronismo das respectivas peças móveis.
A corrente de comando, similar à corrente de uma bicicleta, não exige manutenção, por ser de metal e estar embebida no mesmo óleo que lubrifica o motor.
Entretanto, muitos projetos utilizam outro componente, a famosa correia dentada – que, por ser de borracha, exige manutenção.
Diferentemente do metal, a borracha resseca com o tempo e perde suas propriedades. Você pode até não gostar de motores assim, mas as correias ainda são populares, tanto que três dos cinco carros novos mais vendidos do momento utilizam esse componente, seja seco ou banhado no óleo.
Entendo que é inconveniente ter essa manutenção a mais para ser feita, mas, se não for possível evitá-la, o melhor é fazê-la do que deixar a correia estourar.
Mas há um senão: muitos trocam esse componente somente quando o motor atinge a quilometragem recomendada, que em carros atuais passa facilmente dos 100 mil km.
O correto é também respeitar o tempo de uso, que em muitos casos chega antes da quilometragem.
Em um carro 2020 que tenha rodado apenas 50 mil km e utiliza correia dentada, é prudente respeitar a recomendação do fabricante e substituir a correia, mesmo que a recomendação do manual seja para substituir a cada 120 mil km ou cinco anos.
Descarbonização

Tem sido cada vez mais comum o uso de injeção direta de combustível. Quase todos os modelos equipados com motores turbinados a utilizam, e alguns de aspiração natural também.
Nesses casos, a injeção do combustível é feita diretamente dentro da câmera de combustão, através de um bico de altíssima pressão.
Já no sistema de injeção eletrônica convencional, o combustível é injetado no coletor de admissão – portanto, antes das válvulas. Dessa forma, tanto coletor quanto as válvulas, são sempre “limpos” pelo próprio combustível que passa por ali, evitando o fenômeno da carbonização.
Esse tem sido um problema recorrente nesses modernos motores com injeção direta, que apresentam carbonização nesses componentes. Válvulas carbonizadas tendem a perder a correta vedação no cabeçote e, com isso, o motor começa a falhar.
Nos manuais dos fabricantes, dificilmente vai haver algo sobre isso, mas é fato que acontece.
Basta visitar oficinas mecânicas para observar que é um serviço recorrente em motores com injeção direta, geralmente com quilometragens acima dos 50 mil km.
Pode ser pior quando é utilizado combustível de baixa qualidade, mas, mesmo quem utiliza bons combustíveis, cedo ou tarde vai precisar fazer essa manutenção.
Sendo assim, é prudente verificar, nas manutenções acima dos 50 mil km, a condição do coletor e das válvulas de admissão, mesmo que no manual não haja nenhuma recomendação para isso.
Troca do líquido de arrefecimento

Um dos problemas mais comuns é o sobreaquecimento do motor.
Normalmente, apenas a troca do óleo do motor é respeitada naquele intervalo padrão de 10 mil km, mas o líquido de arrefecimento deveria ter o mesmo cuidado por parte do proprietário de um carro.
Infelizmente, em boa parte das vezes, é checado apenas o nível do radiador, que é completado com qualquer tipo de água.
Ao longo do tempo, essa água comum contamina o líquido original, que é uma mistura de água desmineralizada com aditivo, e começam os problemas intermináveis de motores que sobreaquecem.
Sendo assim, é fundamental dar atenção para o sistema de arrefecimento, que também exige trocas periódicas.
É uma pena que essas trocas muitas vezes não sejam respeitadas, ainda mais considerando o baixo custo dessa manutenção em comparação com o eventual reparo de um motor que “ferveu”.
Folga das válvulas

Boa parte dos motores atuais utiliza tuchos hidráulicos para abertura das válvulas de admissão e escape. São mais silenciosos e dispensam ajustes periódicos.
Entretanto, ainda existem motores com tuchos mecânicos. Nesse caso, os componentes são mais simples e baratos, mas exigem ajustes, pois tendem a apresentar folgas com o passar do tempo de uso.
Nesse caso, o fabricante recomenda o ajuste dessas folgas, mas é uma manutenção cuja importância costuma ser ignorada, justamente por acontecer em quilometragens mais altas, quando o veículo já está fora da garantia e passa a ser revisado em oficinas particulares.
Curiosamente, esse reparo é simples e tende a ser barato.
Mas, como muitos não o fazem, o motor passa a trabalhar com falha na abertura das válvulas, comprometendo desempenho e consumo de combustível.
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