O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu nesta quinta-feira que ações terrestres serão o próximo passo das atividades americanas contra cartéis de droga no exterior e que as medidas contra o tráfico continuarão mesmo sem o Congresso aprovar primeiro uma declaração de guerra — segundo a Constituição dos EUA, o Legislativo é o único poder que formalmente pode emiti-la. Em entrevista coletiva na Casa Branca, Trump afirmou que o secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, notificará o Congresso antes do início de qualquer operação por “terra”, pontuando acreditar que “os legisladores provavelmente gostarão [do plano], com exceção de uns lunáticos da esquerda radical”.
— Não vou necessariamente pedir uma declaração de guerra — disse Trump após ser questionado por um repórter sobre a possibilidade de fazer pedir uma declaração de guerra do Congresso. — Acho que vamos apenas matar pessoas que trazem drogas para o nosso país, certo? Vamos matá-las, sabe, elas estarão mortas.
Os ataques letais a embarcações no Caribe e no Pacífico vêm incomodando alguns legisladores devido às poucas evidências apresentadas pelo governo de que os alvos eram realmente o que o governo classifica como “narcoterroristas”. Desde o início do ano, o governo americano designou vários cartéis como organizações terroristas, medida que equiparia narcotraficantes a combatentes.
Na coletiva, Trump também sugeriu que seu governo, para além das ações militares feitas em águas internacionais, começará em breve a atacar cartéis que transportam drogas aos EUA por terra. Não ficou claro, porém, se isso era uma referência ao México e Canadá, que têm fronteira com o território americano. Desde setembro, já foram nove operações no Caribe e no Pacífico, deixando ao menos 37 mortos, em meio a um forte destacamento militar perto da costa da Venezuela e divergências públicas com o governo da Colômbia.
— [Aqueles que traficam] por terra estão preocupados, porque eu disse que [alvos] em terra serão os próximos — declarou o republicano. — As drogas pelo mar quase acabaram e já não é possível entrar tão rápido por terra. E essa entrada é muito mais perigosa para eles [os narcotraficantes]. Será muito mais perigoso. Você verá isso em breve.
Trump ainda classificou os ataques a embarcações como uma “operação abrangente, sem precedentes e historicamente bem-sucedida” que seu governo tem realizado nas últimas semanas para “prender, processar e remover permanentemente membros de cartéis de drogas estrangeiros do solo americano”.
— Juntamente com gangues transnacionais, esses grupos [os cartéis de drogas] causaram mais derramamento de sangue e mortes em solo americano do que todos os outros grupos terroristas combinados. — afirmou Trump sem apresentar dados para corroborar a declaração. — Eles são os piores dos piores. Deve ficar claro agora para o mundo inteiro que os cartéis são o ISIS [Estado Islâmico] do Hemisfério Ocidental.
Questionado sobre a possibilidade de capturar uma embarcação para “provar” que se trata de barcos que transportam drogas, Trump e Hegseth ressaltaram que o governo americano tem bastante informação de inteligência sobre as embarcações atacadas. Também debocharam da possibilidade de serem barcos de pescadores, como apontado por autoridades internacionais e familiares de algumas das pessoas mortas nos ataques. Além disso, Hegseth defendeu a decisão de devolver dois sobreviventes de um ataque, equiparando a medida a uma prática “padrão” durante uma guerra — a repatriação motivou críticas mesmo por parte de figuras ligadas ao Partido Republicano.
— Sob a administração Trump estamos finalmente tratando os cartéis como a principal ameaça à segurança nacional que eles realmente são. Os cartéis estão travando guerra contra os EUA e, assim como prometi na campanha, estamos travando guerra contra eles como eles nunca viram antes. Basta ligar a televisão para ver o que está acontecendo com eles — disse o líder americano.
Sobrevoo de bombardeiro
Os comentários de Trump foram feitos enquanto um bombardeiro americano B-1 Lancer sobrevoava a costa da Venezuela nesta quinta-feira, embora o presidente tenha negado que os EUA tenham enviado o bombardeiro B-1.
— Não, não é verdade. Não. É mentira. Mas não estamos satisfeitos com a Venezuela por vários motivos. As drogas são um deles, mas também porque eles vêm enviando prisioneiros para o nosso país há anos sob o governo Biden, agora não mais, temos uma fronteira fechada — disse Trump, em aparente referência aos imigrantes do país.
A aeronave apareceu pela primeira vez nos painéis de monitoramento de voo a sudoeste da área de Dallas Fort Worth na manhã desta quinta-feira, e seu ponto mais próximo estava a pouco mais de 80 quilômetros do território continental venezuelano.
Cerca de nove horas depois, dados de voo de código aberto mostraram que o bombardeiro reapareceu por cerca de 15 minutos na região de informação de voo (FIR) da Venezuela – uma área onde o controle de tráfego aéreo é fornecido pelas autoridades venezuelanas.
No entanto, não ficou imediatamente claro se o avião — que estava acompanhado por uma segunda aeronave durante sua aparição na FIR — entrou no espaço aéreo venezuelano.
O sobrevoo ocorre em um momento em que as tensões entre os dois países continuam a aumentar após o envio de navios de guerra americanos para o Caribe, no que Washington afirma ser parte de uma campanha de combate ao narcotráfico, mas Caracas teme que seja um disfarce para uma mudança de regime.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou na quarta-feira que seu país possui 5.000 mísseis antiaéreos Igla-S de fabricação russa em “posições-chave de defesa aérea”. Os mísseis são sistemas de curto alcance e baixa altitude que podem abater pequenos alvos aéreos, como mísseis de cruzeiro, drones e aeronaves de baixa altitude. Embora os B-1 possam voar a altitudes de até 18.000 metros, eles também podem operar a até 60 metros acima do solo.
O Globo







