O Brasil ficou em quinto lugar no ranking do pessimismo. Estamos acima da média global: 9 em cada 10 brasileiros consideram que 2021 foi um ano ruim para o país. E não é para menos. O luto, a fome e o desemprego são apenas algumas das muitas razões para nos sentirmos desanimados e aflitos. A verdade é que a nossa realidade deixa pouco espaço para o tal “clima de final de ano”.
No entanto o Natal da Família Amaral, que aconteceu há uma semana e reuniu pela primeira vez desde o início da pandemia parte dos meus familiares que vivem em São Paulo, me deu esperança. Não só as vacinas me permitiram conhecer meus novos priminhos, como também senti que tínhamos voltado a concordar em algo, ao querermos Bolsonaro fora do poder. E aqui eu incluo aqueles que o apoiaram em 2018. De fato, a reprovação do presidente está em seu maior nível desde o início do mandato.
Olhando para trás, vejo que ganhamos alguns outros poucos, mas bons presentes em 2021. A Fadinha do Skate, Rebeca Andrade e tantos outros atletas nos lembraram que o Brasil é maior e melhor do que os últimos anos nos fizeram acreditar. Há poucos dias, novos ventos vieram do Chile, indicando que há um movimento por mudança. Além disso, um Congresso extremamente conservador aprovou, por unanimidade, um conjunto de projetos para enfrentar a pobreza menstrual. E, apesar deste governo, estamos conseguindo nos vacinar e vamos vacinar nossas crianças.
É um alívio sabermos também que já não teremos Carla Zambelli à frente da Comissão do Meio Ambiente. Sim, eu sei, a dobradinha Vélez-Weintraub nos mostrou que nada é tão ruim que não possa piorar, mas a obstrução exitosa que fizemos ao projeto que permitiria a caça esportiva de animais também nos mostrou que é possível resistir.
São muitos dias de luta para poucos momentos de glória, mas eles existem. Nesta semana, uma decisão do ministro do STF Dias Toffoli indicou que é constitucional a lei que prevê internet e equipamentos aos alunos mais pobres e professores. O ministro também reconheceu que conectividade é algo essencial ao acesso à educação. Essa é uma luta de idas e vindas, que estamos travando com resiliência desde o início da pandemia.
“Vou bloquear todo mundo que falar que esse ano foi de aprendizado”, diz o meme que circula nas redes sociais. Sei que não podemos e não devemos esquecer tantas tragédias evitáveis e tamanha desumanidade, mas, sob o risco de soar Poliana, ouso dizer que é preciso também celebrar os respiros que tivemos. Assim, quem sabe, nos sentimos mais fortes e corajosos para começar 2022.
FOLHA DE SÃO PAULO
