Rebeca Andrade voou e alcançou o topo. A atleta olímpica superou a si mesma e conquistou a medalha de ouro para o Brasil na final do salto neste domingo, 1 de agosto, fazendo história mais uma vez ―uma expressão que já virou clichê para explicar o brilhantismo da atleta de Guarulhos, cidade da Grande São Paulo. Aos 22 anos, Rebeca Andrade entra para o Olimpo da ginástica artística mundial, ostentando no peito não só a épica medalha de prata que conquistou na final da ginástica artística individual feminina, na sexta, mas agora também subindo ao topo do pódio nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020.
A brasileira cravou 15.166 pontos no primeiro salto, mas no segundo sofreu um pequeno deslize e terminou com a média de 15.083. A pontuação foi um pouco inferior aos 15.100 marcados nas classificatórias, quando finalizou com a terceira maior marca entre todas as ginastas. Mas ainda assim superior ao que todas as concorrentes alcançaram. A norte-americana Mykayla Skinner ficou com a prata (14.916), e a sul-coreana Seojeong Yeo levou o bronze, com 14.733.
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— Time Brasil (@timebrasil) August 1, 2021
Nas semis, apenas duas concorrentes tinham ficado a sua frente: as norte-americanas Jade Carey e Simone Biles. Mas a atual campeã olímpica e mundial no aparelho, Simone Biles —que era uma das favoritas ao ouro na prova —, desistiu de disputar a final do aparelho dias antes para cuidar de sua saúde mental, numa corajosa atitude que comoveu o mundo e que alçou a brasileira ao favoritismo.
Primeira campeã olímpica da história
Aos 22 anos, a atleta de Guarulhos dá sequência a um legado iniciado lá atrás. Em 2001, Daniele Hypolito deu ao Brasil a primeira medalha em um mundial de ginástica artística, com a prata no solo. Dois anos depois, Daiane dos Santos a primeira brasileira a tornar-se campeã mundial, em 2003. Agora, Rebeca —que já havia ganhado uma inédita medalha olímpica para a ginástica artística feminina brasileira, com a prata na final individual geral— entra para o ‘hall’ da fama do esporte como a primeira campeã olímpica do Brasil.
A caminhada de Rebeca Andrade rumo ao duplo pódio olímpico começou quando ela ainda era criança, graças a uma tia que trabalhava no Ginásio Bonifácio Cardoso, na Vila Bonifácio, em Guarulhos. A tia viu talento na sobrinha e a apresentou à técnica. Não demorou para que a guarulhense ganhasse o apelido de “Daiane dos Santos 2”, numa referência a um dos maiores nomes da ginástica brasileira.
Hoje, é a campeã mundial Daiane dos Santos quem admira a jovem atleta. Emocionada, após a conquista da medalha de prata no individual geral, Daiane destacou a representatividade negra por trás da vitória em Tóquio. “Durante muito tempo disseram que as pessoas negras não podiam fazer alguns esportes, e a gente vê hoje a primeira medalha, de uma menina negra. Tem uma representatividade muito grande atrás de tudo isso”, falou a gaúcha, emocionada, num vídeo que rodou e comoveu o Brasil.
O Brasil agora torce pela ginasta na prova de solo, que acontece nesta segunda. Rebeca Andrade promete surpreender o país mais uma vez, que a essa altura já se acostumou a vê-la no pódio. Em entrevista ao Globo Esporte na véspera da competição, Rhony Ferreira, o coreógrafo de Rebeca, adiantou que a atleta tem uma “carta na manga” para a exibição de solo individual e que o “baile de favela, não será apenas para a favela, mas um baile pra o Brasil inteiro.”
Com o ouro no salto e a prata na ginástica individual geral, a atleta Rebeca Andrade se tornará uma recordista de medalhas do time brasileiro em uma única Olimpíada, igualando-se ao feito de Isaquias Queiroz que nos Jogos do Rio de 2016 conquistou três pódios — duas medalhas de prata e uma de bronze —na canoagem.
El País