“É um guerreirinho que, aos 2 meses de idade, sobrevive graças a um milagre”, descreve o tio de um bebê que, de acordo com a polícia, foi espancado pelo próprio pai em São Fidélis, no Norte Fluminense. O pequeno chegou há 16 dias à UTI de um hospital da região com cinco costelas quebradas, afundamento do crânio, pulmão perfurado, rins comprometidos e mordidas por todo o corpo. Na mesma semana em que, por um triz, ele resistia a tamanha crueldade, a cerca de 330 km dali, na cidade do Rio, peritos faziam uma reprodução simulada do óbito de Henry Borel Medeiros, de apenas 4 anos. O enteado do vereador Jairo Souza Santos Júnior — o Dr. Jairinho, preso sob suspeita do crime — havia morrido em 8 de março, mas nos meses que se antecederam já sofria com uma rotina de maus-tratos, segundo testemunhas e provas recolhidas na investigação. Barbárie parecida com a que, somente em janeiro e fevereiro de 2021, estiveram submetidas ao menos 292 crianças de até 11 anos no estado do Rio, aponta o Instituto de Segurança Pública (ISP).
No período, em média quase cinco casos por dia chegaram às delegacias: 209 vítimas de lesão corporal dolosa e 83 de maus tratos. O bebê de São Fidélis, por exemplo, foi levado ao hospital do município pelos pais, que no início atribuíram os ferimentos a desconhecidos. Como aconteceu com Henry, as equipes de saúde logo notificaram a suspeita às autoridades policiais, que desvendaram o caso: o pai confessou que ele bateu no pequeno porque o bebê “chorava muito”.
— Achamos que nunca vai acontecer na nossa família. Mas o menino parecia ter sido vítima de algo macabro. Eu me emociono só de lembrar quando o vi a agonia dele no hospital — conta o tio do bebê: —Fui à internet pedir orações, e a região inteira se mobilizou. Ele não está mais intubado e já se alimenta com a mamadeira.
Jornal Extra