Mari é uma cidade de cerca de 22 mil habitantes, localizada a 60km da capital paraibana. Emancipada de Sapé na década de 1950, sempre protagonizou quentes embates políticos ao longo dos anos, desde sua criação. Mas a sua história contemporânea registra a intensa disputa política, na qual duas famílias do município – Martins e Pontes – rivalizaram-se e travaram uma luta sem tréguas pelo poder. Essa disputa acabou por envolver a população local, que se via obrigada a tomar posição e dividir-se em prol dos Martins ou dos Pontes.
A contenda ultrapassou a esfera eleitoral e foi travada ainda no campo jurídico, onde ambas famílias se denunciaram por ações duvidosas quando estiveram no comando da prefeitura de Mari.
A iminente possibilidade de Marcos Martins não concorrer a eleição desse ano, como desejava, é resquício da briga com os Pontes. Martins foi condenado na Ação Civil Pública n° (65) 0002370-51.2012.8.15.0611 por improbidade administrativa com sentença prolatada em julho deste ano (Ver sentença Aqui), e já transitado em julgado.
Os Pontes seguraram as chaves da prefeitura por uma década (Adinaldo Pontes – 1983/1988 e Vera Pontes 1997/2000) e os Martins por 12 anos (Marcos Martins – 2001/2004 – 2005/2008 – 2013/2016), o resultado disso é que cerca de 25 anos da história recente de Mari é marcada por brigas políticas, pessoais e judiciais.
A ação de Improbidade Administrativa movida pelo MP, em 2009 é fruto de uma notícia de fato formulada pelo advogado de saudosa memória Adinaldo de Oliveira Pontes, então adversário dos Martins, na disputa pela prefeitura de Mari nas eleições de 2004 e 2008. A denúncia assinada por JOSE AILTON DOS SANTOS que afirmava ter sido contratado pela edilidade, em 2002, sem concurso público, permanecendo nos quadros da Prefeitura até 2007, recebendo salário por meio de contracheques de servidores municipais e em maio de 2008. José Ailton ingressou com Reclamação Trabalhista junto à Vara do Trabalho de Guarabira, pleiteando direitos trabalhistas contra a empresa SERV-LIMP. Assevera que houve quebra da regra constitucional da contratação através de concurso público, além de desvio de função, bem como violação aos princípios da legalidade, moralidade, isonomia, impessoalidade, eficiência, e indisponibilidade do interesse público, razão pela qual requereu-se a condenação do réu nas penas do art. 12, III, da Lei 8.429/1992.
Na época da referida denúncia os Martins estavam terminando oito anos de governo ininterrupto, indicara o agropecuarista Antonio Gomes para sucedê-los no pleito e saíram vitoriosos, derrotando os Pontes pela terceira vez na disputa pelo comando do município.
Adinaldo Pontes, principal líder político da família, faleceu em 2019. O clima de rivalidade entre eles (Pontes e Martins) já estava ameno, mesmo assim, a briga dessas duas famílias deixa sequelas entre elas e seus seguidores.
O clima bélico implementado pelos Martins contra os Pontes e seus aliados foi coisa nunca vista na história de Mari. Por pouco a disputa política de 2004 não terminou em tragédia e morte, quando o vereador Aguinaldo Matias, sobrinho de Adinaldo, quase foi assassinado em uma emboscada na estrada de Gendiroba quando se dirigia para um comício na zona rural, episódio que ficou conhecido como “Uma noite em Gendiroba”, título de um dos jingles de campanha dos Martins.
Naquele ano de 2004, a esposa de Adinaldo, que foi prefeita, derrotada por Marcos Martins na eleição de 2000, foi eleita a segunda vereadora mais votada da cidade, perdendo apenas para o pai de Marcos, o sindicalista José Martins (que vereador desde 1979).
O clima de hostilidade era tanto que Vera Pontes não compareceu ao ato solene de posse no dia 01 de janeiro de 2005, tendo sido empossada quase quinze dias depois, temendo linchamento público dos aliados e partidários dos Martins, como costumeiramente acontecia sempre que os Pontes se apresentavam em eventos públicos.
Era de conhecimento geral o desejo dos Martins em aniquilar, da vida política, os Pontes em Mari. Tirar a representação do adversário da câmara era ação estratégica para cada vez mais enfraquecê-los. Daí um ano depois da posse, Vera Pontes teve o mandato cassado, fruto de uma série de denúncias apresentadas pelos Martins e seus aliados que se transformaram em processo contra ela.
Durante o período em que os Martins comandaram os destinos de Mari, um poderoso esquema de mídia foi criado para descontruir a imagem dos Pontes perante opinião pública, não só na cidade, como em toda a região.
Após duas décadas de brigas intensas, Marcos Martins, principal expoente da família, praticamente cumpriu o prometido: viu a derrocada dos Pontes e o fim do seu prestígio político. Mas, como a lei do retorno é implacável, Marcos amarga um golpe que pode ser fatal para a sua permanecia na carreia política da família.
A condenação recente sofrida por Marcos suspende seus direitos políticos pelo prazo de 02 (dois) anos, imputa multa civil no valor correspondente a 03 (três) vezes o valor da remuneração mensal percebida por ele quando prefeito à época; o proibi de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que seja por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo período de 03 (três) anos e determina que a multa civil seja revertida em favor do Município de Mari, conforme dispõe o art. 18 da Lei de Improbidade Administrativa.
As informações de bastidores são de que Marcos teria perdido o prazo para recorrer da decisão, o que o torna inelegível para esse pleito.
A briga política dos Martins com os Pontes se sustentou pouco antes de 2016 e chegou ao fim publicamente na eleição de 2018, quando Marcos Martins e Adinaldo Pontes subiram no mesmo palanque defendendo o mesmo projeto político a nível estadual. Concidentemente, tanto Martins quanto Pontes se transformaram em adversários políticos do atual prefeito Antonio Gomes e ambas as famílias militam politicamente para derrotar Antonio nas eleições deste ano.
Ninguém mais em Mari se espanta, como em anos trás, ao ver troca de elogios dos Pontes com os Martins nas redes sociais, provando que os fins justificam os meios.
Se bem que o fim dessas famílias políticas parece não ser das melhores: ambas se destruíram na busca incansável pelo poder e com isso dividiram uma cidade inteira por suas ambições, a prova está aí para todos que quiserem vê!
A história de enfrentamento político entre a família Pontes e Martins se assemelham aquela imagem de uma cobra que engole a outra! E pelo que se percebe, ambas se auto destruíram mutuamente.