Durante conversa, há 2 anos, com o jornalista Gustavo Sylvestre, do ”Canal 5 Notícias (C5N)”, da TV argentina, o Papa Francisco falou sobre temas importantes, como a guerra na Ucrânia, política de armas, comunismo e extrema-direita, além de responder ao repórter se era comunista.
Na resposta, o pontifice ironizou o possível rótulo. “Minha carta de identidade é Mateus 25. Leia Mateus 25 e veja se quem escreveu não era comunista. ‘Tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, estive nu e me vestisse’. Essa é a regra de conduta”, afirmou o Papa Francisco.
Para o cientista político Gerson Moraes, o Papa foi percebendo, durante a sua trajetória – antes mesmo de se tornar Papa – que, graças ao seu coração pastoral, precisava lutar contra as formas de tirania, e a favor das minorias.
Principalmente na América Latina, onde estão relacionadas as histórias de exploração e de escravidão dos indígenas e negros, o pontífice sentiu a necessidade de lutar em favor destes necessitados.
Para Moraes, Francisco foi um Papa latino-americano na sua essência. “Essa opção em lutar pelas minorias, pelos pobres, pelos homosexuais, pelo meio ambiente, pela crítica à concentração de riqueza, fez com que a ala conservadora da igreja o enxergasse como um comunista. Francisco era um Papa com compromisso social, não um comunista, o que incomodou os setores mais conservadores, além da elite e dos poderosos”, explicou.
Extrema-direita
Ainda na conversa com o jornalista Gustavo Sylvestre, do ”Canal 5 Notícias (C5N)”, o líder da Igreja Católica disse que a extrema-direita é uma preocupação constante. Para o papa, a melhor forma de dialogar com pessoas que se alinham ao extremisto era falando de justiça social.
“A extrema-direita se recompõe, é curioso. Se recompõe sempre porque é centrípeta, não centrifuga. Não se cria para fora possibilidades de reforma, ela é sempre centrípeta”, explicou.
Ao longo da vida, o Papa Francisco foi acusado por críticos de ter uma postura “pró-comunismo”, justamente por causa de suas falas sobre justiça social, crítica ao capitalismo e defesa dos pobres. Ao que respondeu: “É a doutrina social da igreja. Eu não falo como marxista, falo como cristão”.
O tema também esteve presente na autobiografia do papa, publicada em 2024. “Falar dos pobres não significa ser automaticamente comunista”, escreveu. “Os pobres são a bandeira do evangelho e estão no coração de Jesus. Isso não é comunismo. Isso é cristianismo em estado puro”, concluiu.
A professora comunista do Papa Francisco
O Papa contou sua história com o comunismo. Ele relatou ter tido uma professora comunista que foi perseguida e morta na ditadura argentina – que durou de 1976 a 1983.
Ele disse que essa professora ensinava com paixão e dedicação, e que, apesar de ser comunista, tinha uma grande ética, amava seus alunos e buscava o bem das pessoas. Uma das frases do pontífice sobre a professora foi: “Ela era comunista, mas era uma mulher extraordinária. Me ensinou muito.”
IG