As habilidades das pessoas para interpretar emoções ou focar numa atividade são reduzidas pela exposição de curto prazo a partículas finas inaláveis, um misto de materiais líquidos e sólidos com menos de 2,5 micrômetros (unidade de medida mil vezes menor que um milímetro).
Uma exposição breve a altas concentrações de ar poluído com material particulado fino já pode ser o suficiente para diminuir o foco e a capacidade de evitar distrações, de acordo com os pesquisadores das universidades britânicas de Birmingham e Manchester – duas cidades que sofrem com poluição há séculos, desde sua participação importante nos primórdios da Revolução Industrial.
O estudo que reúne as descobertas dos cientistas foi publicado na Nature Communications. A pesquisa mostrou que a perda de atenção seletiva perdurava quatro horas depois da exposição às partículas de poluição
Memória saiu ilesa
O experimento consistiu em expor os voluntários a níveis altos de poluição do ar, usando fumaça de velas, e testar suas habilidades cognitivas logo antes do contato com as partículas finas e quatro horas após a exposição.
O grupo-controle respirou ar limpo, e passou pelos mesmos testes que medem a capacidade de atenção seletiva e sustentada, reconhecimento de emoções, memória de trabalho e velocidade psicomotora (capacidade de coordenar ações motoras com pensamentos e emoções).
De acordo com os resultados do estudo, os participantes expostos à poluição tiveram as capacidades de atenção seletiva, essencial para priorizar tarefas, e reconhecimento emocional, importante para garantir um comportamento socialmente aceitável, afetadas negativamente pela poluição.
A conclusão se mantém, independentemente do fato do participante respirar pelo nariz ou só pela boca.
Segundo os pesquisadores, a inflamação causada pela poluição é provavelmente a principal responsável por esses déficits de habilidade cognitiva. A memória de trabalho – que guarda informações de forma temporária, úteis na realização de atividade cotidianas – foi uma das poucas que saiu ilesa da exposição ao material particulado, sem impactos negativos perceptíveis.
Em um depoimento disponibilizado pela Universidade de Birmingham, o cientista ambiental e co-autor do estudo Francis Pope disse que “a qualidade baixa do ar mina o desenvolvimento intelectual e a produtividade dos trabalhadores”. A poluição do ar tem impactos sociais e econômicos severos, especialmente em áreas urbanas com altos índices de poluição.
Novos estudos são necessários para entender as minúcias do efeito negativo da poluição sobre as habilidades cognitivas e para explorar impactos intelectuais causados pela exposição de longo prazo às partículas finas inaláveis.
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