A taxa básica de juros do Brasil, Selic, deve ser elevada em mais um ponto percentual em março. Com isso, chegará a 14,25% ao ano, o mesmo patamar de julho de 2015, durante a crise no governo Dilma Rousseff. Antes disso, ela só havia chegado a esse nível em agosto de 2006.
É isso o que aponta o comunicado divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), nesta quarta-feira (29/1). No documento, o órgão do BC justificou a elevação de um ponto percentual da taxa, agora fixada em 13,25% ao ano.
Informou o Copom, no comunicado: “Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião [em março]. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação.”
Na nota, o Copom considerou ainda que o “ambiente externo permanece desafiador em função, principalmente, da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos”. Para os diretores do BC, tal fato “suscita mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed (o Federal Reserve, o banco central americano)”.
De acordo com análise do Banco Daycoval, em dezembro, as estimativas para a inflação de 2025 e 2026 estavam, respectivamente, em 4,59% e 4%. Agora, passaram para 5,50% e 4,22%. A previsão do IPCA para este ano também aumentou. Foi de 4,5% para 5,3%.
Atividade econômica
A atividade econômica, apontam os economistas, continua forte, o que exerce pressão de alta nos preços dos produtos. Embora a economia tenha apresentado uma leve queda no fim de 2024, a previsão é que reaqueça em 2025, puxada por um desempenho mais parrudo do agronegócio.
Efeito Trump
O campo das incertezas descrito pelos analistas comporta ainda a presença de Donald Trump na Casa Branca. As medidas já anunciadas pelo presidente americano de aumento de tarifas – ainda não confirmado – e deportação de imigrantes. Ambas as iniciativas são consideradas “inflacionárias”.
Uma vez confirmadas, elas podem comprometer o ritmo de queda de juros nos Estados Unidos, aumentando a atratividade dos títulos da dívida americana, os Treasures. Se isso ocorrer, a tendência é de pressão de alta na cotação do dólar e intensificação de queda das Bolsas de Valores em países emergentes, como é o caso do Brasil.
Nesse sentido, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não alterou nesta quarta-feira o patamar dos juros dos EUA após três cortes seguidos nas últimas reuniões. A manutenção era esperada pelo mercado. A taxa permaneceu no intervalo entre 4,25% a 4,5%.
metropoles.com