A mais recente pesquisa Genial/Quaest traz um dado preocupante para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva: pela primeira vez desde o início da série histórica, a desaprovação ao trabalho do presidente ultrapassou a aprovação. A pesquisa de janeiro de 2025 mostrou que 49% dos brasileiros reprovam a gestão, enquanto 47% a aprovam. Este cenário marca um ponto de inflexão, não apenas no governo Lula, mas também na percepção do eleitorado, que parece cada vez mais distante das promessas de um governo de mudanças e de recuperação econômica.
A Desconexão Entre o Governo e a Realidade do Povo
O que vemos aqui não é apenas uma oscilação nos números, mas sim um sinal claro de desconexão entre a gestão federal e a realidade que os brasileiros enfrentam no dia a dia. Enquanto Lula se mantém com uma imagem positiva em algumas regiões, como o Nordeste, a queda de sua popularidade é visível. A região, que historicamente foi uma base sólida de apoio ao presidente, registrou uma redução de 67% para 59% em sua aprovação. O aumento da desaprovação entre os nordestinos, de 32% para 37%, é um indicativo de que a população sente que as promessas de inclusão social e de melhoria das condições de vida não foram cumpridas.
Esse fenômeno não se limita ao Nordeste. A pesquisa revela que o governo enfrenta dificuldades também no Sul e Sudeste, regiões em que a aprovação caiu significativamente. A queda de 7 pontos porcentuais no Sul, onde a desaprovação subiu para 59%, é um exemplo claro da insatisfação com a atual gestão. É importante lembrar que as expectativas em torno do governo eram altas no início do mandato, e, à medida que os meses se passaram, a frustração foi se acumulando.
A Realidade da Desigualdade e a Falta de Resultados Concretos
Uma análise detalhada da pesquisa revela que a desaprovação tem uma correlação direta com a situação econômica dos brasileiros. Entre os mais pobres, aqueles que ganham até dois salários mínimos, a aprovação caiu de 63% para 56%. Por outro lado, a desaprovação subiu de 34% para 39%. Isso reflete uma realidade indiscutível: as promessas de um governo que se colocou como representante dos mais humildes ainda não se concretizaram de forma satisfatória. A dificuldade de acesso a bens essenciais, como a carne, simbolizada pela popular “picanha”, se tornou um reflexo da insatisfação popular. Quando os cidadãos veem suas expectativas frustradas, especialmente nas camadas mais vulneráveis da sociedade, é natural que surja uma onda de desaprovação.
Além disso, a pesquisa aponta que a rejeição ao governo Lula é mais acentuada entre os evangélicos e entre aqueles com renda superior a cinco salários mínimos. No caso dos evangélicos, a desaprovação subiu de 56% para 58%, o que demonstra a dificuldade do governo em dialogar com um eleitorado importante. A falta de um projeto claro para as classes mais altas, que sentem os efeitos da inflação e da insegurança econômica, também contribui para a crescente rejeição.
A Falta de Autocrítica
Natuza Nery, em sua análise, aponta o que muitos já intuíram: o governo parece manter uma “autoestima elevada” e continua se vendo de uma forma mais positiva do que a população realmente o percebe. A falta de um ajuste nas políticas públicas e a persistência em promessas não cumpridas criaram um abismo entre o que o governo acredita ser sua realidade e o que os brasileiros estão vivenciando. A análise da jornalista é um alerta para que o governo Lula, na metade de seu mandato, perceba que não pode continuar ignorando a insatisfação popular.
O governo precisa, urgentemente, adaptar-se à realidade. O Brasil é um país com desigualdades profundas e um eleitorado que não se contenta com discursos, mas exige resultados. Para recuperar a confiança perdida, será necessário um esforço concreto para resolver os problemas econômicos que afetam diretamente as camadas mais pobres e também para reconquistar os eleitores que estão frustrados com a falta de avanços.
O Caminho para Recuperar a Confiança
O caminho para reverter essa situação não é simples, mas é possível. Lula terá que mostrar, por meio de ações práticas e de políticas públicas eficazes, que está ouvindo a população e atendendo às suas necessidades. Precisará também demonstrar uma capacidade de adaptação diante de uma realidade que exige respostas mais rápidas e mais eficazes. O desgaste político pode ser revertido, mas isso exigirá mais do que palavras: exigirá ações concretas, que mostrem que o governo está, de fato, comprometido em melhorar a vida do povo brasileiro.
No fim, o que está em jogo não é apenas a imagem do presidente, mas a própria confiança nas instituições democráticas. E, para que essa confiança seja restaurada, será preciso que o governo não só mude de direção, mas também se reconecte com os anseios e as dificuldades da população. Caso contrário, o cenário de rejeição poderá se ampliar ainda mais, colocando em risco os objetivos de um governo que começou com grandes expectativas.
Por: Napoleão Soares