SÃO PAULO – O prefeito João Doria venceu neste domingo a prévia que escolheu o candidato do PSDB a governador de São Paulo para a eleição deste ano. Ele teve 11.993 votos, cerca de 80% dos 15 mil filiados que participaram do processo.
O prefeito disputou com o ex-senador José Aníbal (901 votos), o secretário estadual Floriano Pesaro (1.101 votos) e o cientista político Luiz Felipe D’Avila (993 votos).
Insatisfeito com o processo, Aníbal fez acusações ao prefeito e ao PSDB:
— O partido está errando, a direção partidária está atropelando, desrespeitou normas regimentais, é um processo por rolo compressor. O prefeito sai da prefeitura muito criticado pela população de São Paulo, que acreditou na palavra dele. Ele não tem palavra, ele não cumpre. Ele disse que ia ficar (até o fim do mandato). Mas, mais grave que isso, o que ele disse que ia fazer ele não fez. Ele é um mau gestor, ele é um político carreirista.
Doria reagiu e sugeriu a saída de Aníbal do partido:
— Vai um recado meu a José Aníbal. Foram 15 mil filiados do partido que foram às urnas. A fraude está em seu coração, tenha a grandeza de reconhecer. A amargura, o ressentimento, a incapacidade de ter uma alma elevada, e agora ameaça entrar com processo, já fez isso duas vezes. Não houve fraude alguma, José Aníbal. Se quiser continuar no PSDB, tenha a grandeza de Mario Covas, de Franco Montoro, ou peça para sair — disse Doria.
Pesaro e D’Avila reforçaram a importância da unidade partidária para a eleição de outubro.
— Superado esse processo, a unidade precisa se dar em torno da candidatura do prefeito João Doria. Eu vou trabalhar para isso e acho que faço parte de uma maioria do partido que pensa assim. Temos que saber ganhar e perder — afirmou Pesaro.
D’Avila também pregou a unidade, mas criticou a condução das prévias:
— Precisamos melhorar a organização das prévias para as próximas vezes.
No discurso aos militantes, Doria lançou a tese que vai defender em sua campanha, para tentar reduzir o desgaste por ter deixado a prefeitura após um ano e três meses.
— São Paulo não perde um gestor. Ganha dois, um na prefeitura e outro no governo do estado — afirmou, referindo-se a seu sucessor na prefeitura, o vice Bruno Covas, e a uma possível vitória dele próprio nas eleições.
Doria chegou ao diretório estadual do PSDB no início da noite quando a apuração estava praticamente encerrada. O clima era tranquilo e com poucos militantes, bem diferente da semana passada quando, numa reunião no mesmo local, o prefeito anunciou que disputaria a prévia.
A cobrança pelo PSDB de uma taxa de inscrição de R$ 45 mil para os pré-candidatos participarem da prévia foi um dos pontos mais polêmicos da eleição interna. O assunto foi parar na Justiça porque dois inscritos — Pesaro e Aníbal — alegaram não ter como pagar. Eles acusaram o partido de tentar boicotar a prévia com a medida. Na sexta-feira, após muito desgaste, ficou decidido que o pagamento seria facultativo. Doria e D’Avila pagaram a taxa.
O governador Geraldo Alckmin teve um evento público com Doria durante a manhã deste domingo, quando a votação já acontecia. Alguns tucanos consideraram uma interferência de Alckmin em favor do prefeito.
O ‘NOVO’ QUE FAZ A VELHA POLÍTICA
Eleito como símbolo de “renovação”, com uma estratégia de propaganda que vendia um candidato que não era político de carreira e criticava abertamente a postura destes, João Doria só precisou de pouco mais de um ano de mandato como prefeito para adotar práticas e posturas dos políticos tradicionais. Além de renunciar ao cargo para candidatar-se a um de maior projeção (governador de estado), Doria usa como chamariz em ano eleitoral um programa de asfaltamento de ruas em larga escala, forma antiga de captar votos.
A prefeitura paulistana planeja gastar este ano R$ 550 milhões em recapeamento, mais do que todo o investimento previsto para Saúde e Educação. Como tudo na gestão Doria, o programa nasceu com nome, hashtag e pedigree. O “Asfalto Novo” é o assunto mais tuitado pelo prefeito desde fevereiro. Segundo as mensagens, a massa asfáltica vem da Europa e dos Estados Unidos e a promessa de durabilidade é de oito anos. A previsão é que, até julho, 404 km de vias (2% da malha viária paulistana) tenham sido recauchutados. “É o maior programa de recapeamento dos últimos 30 anos na cidade”, propaga a publicidade em rádio e TV paga pela prefeitura.
Há décadas, políticos concordam que o asfalto pode operar milagres numa campanha eleitoral. No caso de Doria, o programa pretende ser vacina contra um possível desgaste pela renúncia precoce à prefeitura.
O Globo