Em uma cabana de madeira coberta de neve, uma equipe com chapéus vermelhos se reveza para ler milhares de cartas que chegam para o Papai Noel. Não é uma cena de filme clichê de Natal, mas a rotina de quem trabalha na agência de correio oficial do bom velhinho, na cidade finlandesa de Rovaniemi.
O Santa Claus’ Main Post Office (o nome da agência de correios) recebe 550 mil cartas todos os anos, enviadas principalmente por crianças da Grã-Bretanha e de outros países europeus. São 30 mil cartas por dia durante as semanas que antecedem o Natal, a alta temporada da agência gelada – Rovaniemi fica acima do Círculo Polar Ártico, e as temperaturas médias ficam em torno de – 10°C nesta época.
É uma agência (quase) normal. Quem mora na cidade compra selos ou envia pacotes por lá. Mas o lugar, situado em meio a uma floresta de pinheiros, também é uma peça central do parque temático Santa Claus Village, onde os turistas se hospedam em iglus, passeiam em trenós puxados por renas ou huskies, procuram por auroras boreais e visitam o Papai Noel. As atividades rolam todo mês – e atraem 400 mil pessoas ao ano.
Trabalhar neste mundo natalino significa investir na performance. Os funcionários da agência vestem fantasias de elfos, fazem apresentações de dança e, claro, cuidam das cartas enviadas ao bom velhinho. Esta é sua principal função: selecionar as correspondências que têm um endereço de retorno e responder as 40 mil melhores cartas em até 12 idiomas.
Blackhurst, do jornal britânico The Telegraph, deu uma espiada no conteúdo nelas quando trabalhou por um dia na agência. Ele conta que há correspondências de pais que pedem brinquedos para seus filhos e de crianças que enviam uma lista de desejos com 30 itens (sem ao menos uma grande saudação ao Papai Noel).
Mas também escrevem crianças curiosas com a rotina do bom velhinho (“Você toma banho regularmente? Onde estão as oficinas de brinquedos? Você conhece Jesus?”) e crianças em situação de vulnerabilidade, que pedem roupas de inverno. Uma funcionária admite: “Às vezes pode ser emocionalmente exaustivo”.
A agência começou a funcionar em 1985 e, desde então, recebeu 20 milhões de cartas – de quase todos os países do mundo, segundo o site oficial. Às vezes, elas têm endereços vagos, como “Papai Noel, Polo Norte” e chegam em Rovaniemi só porque, em alguns países, os correios tendem a enviar cartas assim para a Finlândia. (Aqui no Brasil, as cartinhas enviadas para o bom velhinho são respondidas pela campanha Papai Noel dos Correios, que existe há mais de 20 anos.)
O Santa Claus’ Main Post Office também vende bugigangas natalinas para os turistas – e para quem não planeja visitar a Finlândia em futuro próximo. É possível comprar uma carta online, por exemplo, supostamente escrita pelo próprio Papai Noel. Ela inclui historinhas dele e de seus assistentes, além de um “certificado” para quem se comportou este ano. Dá para pedir por uma carta dessas em português, e ela será entregue aqui no Brasil.
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