Tudo no Qatar parece ser revestido de artificialidade: um oásis de arranha-céus no meio do deserto, erguido às custas das vidas de trabalhadores imigrantes e dos dólares arrecadados através da exploração do planeta.
Não há liberdade para que a imprensa mostre a realidade do país, e uma parte dela nem tenta porque está habituada a tratar o futebol da forma mais superficial possível.
No estádio, DJs dão o tom com batidas pop e show de luzes.
As torcidas europeias e sua clássica frieza (ah, Itália, que falta você faz) parecem desinteressadas.
A brasileira é uma espécie de start-up de torcida que indica ter ido para o Qatar direto da Faria Lima, toda bem arrumadinha, com faixas em inglês e um jeito colonizado de ver o jogo.
As torcidas do continente africano e dos países árabes tentam fazer barulho – Marrocos e Arábia Saudita protagonizaram espetáculos – mas é a torcida argentina que diz ao mundo o que é o futebol.
Ignorando o DJ do estádio, cantando endoidecidos como se estivessem em território nacional, os vizinhos apontam o caminho.
Futebol é paixão e pouca coisa além disso. É uma pena que tenhamos perdido de vista o que podemos ser.
Em terra arrasada, dentro de uma ditadura de emoções controladas e artificializadas, nos resta humildemente aplaudir o que fazem os argentinos.
Uol