Com as mudanças drásticas que têm ocorrido no mercado de trabalho, nunca houve uma época melhor para que os funcionários cultivem técnicas que irão ajudá-los a enfrentar melhor os desafios do ambiente profissional.
É por isso que vem ganhando cada vez mais importância a ideia da “mentalidade de crescimento” – a crença de que os profissionais são capazes de melhorar ativamente suas capacidades, em vez de se considerarem capazes ou incapazes, de forma inata, de realizar certas tarefas.
Mas dominar essa mentalidade do “poder fazer” pode ser mais difícil do que parece. É preciso enfrentar dificuldades com serenidade , aprender com as críticas e persistir frente às dificuldades.
Mesmo se acreditarmos que desenvolver essa tenacidade vale a pena, as dúvidas e os medos, na prática, podem nos dominar.
“Temos a tendência natural de acreditar nas nossas emoções”, segundo a psicóloga Elaine Elliott-Moskwa, de Princeton, em Nova Jersey (Estados Unidos), autora do livro The Growth Mindset Workbook (“Livro de exercícios sobre a mentalidade de crescimento”, em tradução livre).
Para ela, “quando alguém diz ‘acho que não sou bom o bastante’, esse sentimento é muito poderoso, embora seja [apenas] uma crença sobre as suas habilidades”.
O princípio da mentalidade de crescimento é aprender a superar os sentimentos de incapacidade ou inadequação face aos obstáculos, reconhecendo neles uma oportunidade de aprender. E o cultivo desta abordagem pode trazer profundos benefícios.
Funcionários com mentalidade de crescimento podem fazer uso de habilidades valiosas para gerenciar o estresse, formar relacionamentos de apoio com os colegas, lidar com os fracassos e desenvolver atributos que os ajudarão nas suas carreiras.
O que é a mentalidade de crescimento?
A mentalidade de crescimento surgiu pela primeira vez em 1988 como teoria relacionada à educação. “Ela se referia ao motivo dos fracassos das crianças inteligentes frente às dificuldades, apesar das suas capacidades reais”, afirma Elliott-Moskwa.
A ideia era que a postura dos estudantes ao encarar um desafio era um fator determinante para o sucesso, não a sua capacidade inata. Em outras palavras, nossas ideias sobre a nossa capacidade de fazer alguma coisa podem ter impacto significativo sobre o resultado de uma tarefa.
A psicóloga Carol Dweck, professora da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, resumiu o conceito em duas abordagens que podem determinar os resultados: a “mentalidade fixa” e a “mentalidade de crescimento”.
“A mentalidade fixa é a ideia de que as suas capacidades são altas ou baixas e que não há muito que você possa fazer para mudar isso”, segundo Elliott-Moskwa, “enquanto a mentalidade de crescimento é a visão de que as suas capacidades são maleáveis ou podem ser alteradas”.
Embora algumas pessoas possam inclinar-se mais para uma forma do que para a outra, elas não têm uma mentalidade fixa ou de crescimento definida para todos os problemas. Na verdade, abordar um desafio com mentalidade de crescimento e não fixa é uma escolha que qualquer pessoa pode fazer.
Mas, para muitos, os momentos de dificuldade frequentemente impulsionam a mentalidade fixa.
Elliott-Moskwa afirma, por exemplo, que, quando as pessoas recebem críticas de um chefe ou têm dificuldades com uma nova tarefa, elas podem ter sensação de inadequação. Nestas situações, a reação de mentalidade fixa pode ser “não sou bom o suficiente” ou “não consigo fazer”, segundo ela.
Por outro lado, a mentalidade de crescimento traz uma conduta diferente na mesma situação. Pessoas com esse tipo de mentalidade não interpretam esses momentos como fracassos pessoais, mas sim reconhecem a necessidade de melhorar.
Fundamentalmente, as pessoas que trabalham com mentalidade de crescimento acreditam que são capazes de melhorar e de dividir as dificuldades em etapas menores que podem ser alcançadas.
Isso significa sair da zona de conforto e aceitar um certo nível de risco, incerteza e a possibilidade de fracasso decorrente de tentar algo novo.
“Parece um pouco desconfortável e também um pouco estimulante”, afirma Isabella Venour, coach de mentalidade de Londres, que ajuda os profissionais a compreender o papel desempenhado pelas suas crenças, valores e padrões de pensamento no ambiente de trabalho.
Para Venour, “você corre algum risco de que as coisas possam dar errado, mas também tem o potencial de aprender algo e de crescer como indivíduo”.
Por que a mentalidade de crescimento é importante atualmente?
A conduta confiante é sempre bem-vinda no mercado de trabalho. Ela demonstra que os profissionais são adaptáveis e estão dispostos a evoluir nos seus empregos e nas empresas.
Mas incentivar a mentalidade de crescimento é importante para ajudar os funcionários a enfrentar turbulências e aumentar sua resiliência, à medida que eles ficam mais confiantes e capazes de lidar com dificuldades.
Isso é essencial em um momento em que muitos funcionários estão enfrentando questões de bem-estar causadas pela pandemia.
O Relatório do Estado do Mercado de Trabalho em 2022, elaborado pelo instituto de pesquisas Gallup, demonstrou que o estresse entre os profissionais em todo o mundo vem crescendo de forma consistente desde o início da pandemia, em 2020.
Uma pesquisa global similar do Projeto Bem-Estar, com sede em Londres, demonstrou que, em 2022, a resiliência dos profissionais é particularmente baixa e o risco de burnout persiste, especialmente entre os que não ocupam cargo de gerência.
“As pessoas estão sendo ‘esticadas ao máximo’ à medida que as pressões do trabalho e da vida pessoal estão se sobrepondo”, afirma Venour. “Os líderes das empresas estão observando que seus funcionários estão tendo dificuldade para lidar com os desafios do dia a dia.”
A mentalidade de crescimento fornece não apenas um ordenamento para lidar com as dificuldades, mas uma forma de dividir essas dificuldades em etapas gerenciáveis.
“Muitas vezes, se sentirmos pressão quando não estamos em uma mentalidade de crescimento, nossa tendência é nos concentrarmos no que não conseguimos controlar”, afirma Venour.
“É muito mais útil concentrar-nos no que podemos influenciar.” Isso começa com a identificação das capacidades pessoais que os profissionais podem empregar, para só depois elaborar um plano para melhorar as áreas com desempenho mais fraco.
A adoção de uma abordagem pragmática pode ajudar a contornar a sobrecarga e também ajudar os profissionais a traçar limites – algo que muitos funcionários remotos enfrentam dificuldade para fazer.
Venour afirma que, por exemplo, “se o seu chefe atribuir a você uma tarefa que não parece realista, é mais fácil dizer que você não tem certeza sobre o prazo ou que precisa de uma nova reunião para ter mais clareza. Como você está confiante na sua capacidade e não considera que as fraquezas irão vencê-lo, você pode dizer que precisa de um pouco de apoio naquele ponto”.
É possível praticar individualmente a mentalidade de crescimento, mas, se a empresa incentivar toda a equipe a adotar essa mentalidade, os resultados podem ser ainda mais poderosos.
“Isso incentiva as pessoas a concentrar-se no feedback e não no fracasso”, explica Venour. E pode ajudar a motivar os funcionários a lidar com projetos difíceis e estabelecer uma cultura de aprendizado.
Estudos indicam que este é um processo desejado pela imensa maioria dos profissionais. Em uma pesquisa da empresa de consultoria americana McKinsey & Company, realizada em 2022, 41% dos profissionais afirmaram que a principal razão que eles têm para sair de um emprego é a falta de desenvolvimento e avanço na carreira.
Como desenvolver a mentalidade de crescimento?
A primeira etapa para incentivar a mentalidade de crescimento é a consciência pessoal – a capacidade de identificar as ideias de mentalidade fixa quando elas aparecem, o que muitas vezes se manifesta como uma sensação de desconforto ou inadequação frente a uma dificuldade.
Elliott-Moskwa aconselha, em primeiro lugar, a reconhecer e aceitar esses sentimentos, em vez de se condenar por eles.
“Em seguida, tome cuidadosamente outra decisão a fim de tomar uma ação de iniciativa, adotando o que você estaria fazendo se tivesse mentalidade de crescimento – a crença de que você pode aumentar suas capacidades”, afirma ela.
Para ajudar os clientes a lidar com obstáculos com mentalidade de crescimento, Venour frequentemente divide as dificuldades que parecem esmagadoras em diversas situações menores.
Por exemplo, se um funcionário se sentir incapaz de fazer uma apresentação em frente aos colegas, “o quanto disso é emocional e o quanto é factual?”, pergunta ela. “Eles conseguem conversar? Sim. Eles já falaram para mais de uma pessoa antes? Sim. Eles já fizeram slides de apresentação antes? Sim. Então, se existem elementos que eles podem fazer, [qual] é o ponto em que eles não estão confortáveis?”
Reduzir uma dificuldade assustadora a um ponto de dificuldade específico ajuda os profissionais a concentrar-se e reduz a necessidade de aprendizado para um nível que pode ser alcançado.
Muitas vezes, o próprio aprendizado requer que se peça ajuda. Um dos principais conceitos da mentalidade de crescimento é observar os demais como inspiração em vez de competição, uma abordagem que pode ajudar a incentivar a formação de equipes colaborativas.
“Se os profissionais observarem os demais como recursos e não como concorrentes, eles estarão abertos a compartilhar os conhecimentos e capacidades das outras pessoas e aprender com os colegas”, explica Elliott-Moskwa.
Ao longo do tempo, reconhecer a mentalidade fixa e praticar a mentalidade de crescimento pode ficar mais fácil e a perspectiva de assumir desafios passa a ser menos intimidadora.
“A mentalidade de crescimento é um comportamento empoderador”, afirma Venour. “Você pode realmente desenvolver-se e crescer como pessoa ao longo do tempo.”
BBC