Em 1945, a expectativa de vida do brasileiro era de míseros 45,5 anos. Esse número cresceu e, em 2019 atingiu 76,6 anos. De 1980 para cá, a média subiu quatro meses por ano.
Expectativa de vida é uma idade aproximada que um grupo de indivíduos viverá, caso passem a vida em condições similares desde o momento em que nascem. Ela é usada para compor outros números, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Não é uma data de validade do seu corpo, e sim um dado estatístico da média de tempo de vida.
Muitos países percebem o estrago da pandemia de covid-19 nos números No Brasil, a média de expectativa de vida caiu quatro meses a cada mês de pandemia. Um levantamento elaborado no início de 2022 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que a expectativa de vida do brasileiro diminuiu 4,4 anos – aproximadamente 53 meses. Se antes o brasileiro vivia em média 76,6 anos, agora ele bate os 72,2.
As mais de 6,5 milhões de mortes ao redor do globo também representam um aumento inesperado na taxa de mortalidade de cada país, o que é levado em conta durante os cálculos de expectativa de vida.
Usando dados de 29 países da Europa, além do Chile e dos EUA, pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que a expectativa de vida em 2021 permaneceu menor do que o esperado caso as tendências pré-pandemia continuassem.
Em pandemias anteriores (como HIV ou H1N1), os níveis de expectativa de vida retornaram rapidamente. Já a magnitude da COVID foi singular – as quedas durante epidemias de gripe na segunda metade do século 20 foram bem menores do que as observadas nos últimos anos.
A maioria dos países da Europa Ocidental estão recuperando as perdas de 2020. Suécia, Suíça, Bélgica e França tiveram recuperação completa, retornando aos níveis de expectativa de vida de 2019. A Inglaterra e o País de Gales tiveram uma recuperação parcial. Na Escócia e na Irlanda do Norte, no entanto, os dados se mantiveram nos mesmos níveis de 2020. A Europa Oriental e os EUA apresentaram pioras durante o mesmo período.
Dos países estudados, a Bulgária foi o mais atingido, com um declínio de 3,5 anos ao longo de dois anos da pandemia. Nos Estados Unidos, foi a queda foi de 2,3 anos. De acordo com o estudo, ‘”Bulgária, Chile, Croácia, República Tcheca, Estônia, Alemanha, Grécia, Hungria, Lituânia, Polônia e Eslováquia tiveram déficits de expectativa de vida substancialmente maiores em 2021 do que em 2020”, indicando que o impacto da carga de mortalidade se acumulou ao longo da pandemia.
“Uma mudança notável entre 2020 e 2021 foi que os padrões etários de excesso de mortalidade mudaram em 2021 para grupos etários mais jovens, à medida que as vacinas começaram a proteger os idosos”, aponta Ridhi Kashyap, participante do estudo.
“Países como Suécia, Suíça, Bélgica e França conseguiram recuperar os níveis pré-pandêmicos porque protegeram tanto os idosos quanto os jovens.”
José Manuel Aburto, outro autor, também expressou preocupação com países que não foram incluídos no estudo: “Em 2020, as perdas na expectativa de vida sofridas no Brasil e no México excederam as experimentadas nos EUA, então é provável que esses países continuem sofrendo impactos de mortalidade em 2021.”
“É plausível que países com respostas ineficazes de saúde pública experimentem uma crise de saúde prolongada induzida pela pandemia. Com paralisações de médio prazo no aumento da expectativa de vida, enquanto outras regiões conseguem um retorno mais suave às tendências pré-pandemia”, escrevem os pesquisadores.
A pesquisa foi publicada no periódico Nature.
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