Agora ao lado da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a senadora Simone Tebet (MDB) afirma que o “erro fatal” que custou a vitória no primeiro turno das eleições ao petista foi não ter detalhado seu plano de governo e ter apenas focado seus feitos do passado.
Tebet terminou o pleito de domingo (2) em terceiro lugar, com 4,16% dos votos (quase 5 milhões de votos).
“O erro fatal, a meu ver, que fez com que o candidato Lula não ganhasse no primeiro turno, foi a incapacidade de perceber que só faltava um detalhe: o eleitor sabe o que foi o governo do PT, com os seus avanços e com os seus defeitos. Mas estava esperando uma fala, não do programa de televisão, mas nos debates, nos palanques, uma fala do Brasil do futuro”, diz Tebet à Folha de S.Paulo.
Por isso, ela agora espera que esse erro seja corrigido. Não pede que Lula anuncie com antecipação o ministro da Economia em seu eventual governo. Mas considera necessário que, pelo menos, o perfil desse quadro já seja divulgado.
Apesar de ter ficado em terceiro lugar, Tebet ganhou força política durante a campanha eleitoral. Saiu-se bem nos debates, cresceu em alguns momentos nas pesquisas e seu apoio passou a ser cortejado. No entanto, a senadora despista sobre seu futuro, tanto em eventual governo Lula como nas próximas eleições presidenciais.
“Se eu projetasse 2026, meu caminho seria a neutralidade [e não apoio a Lula]”, afirma.
- PERGUNTA – Qual a avaliação que a senhora faz do primeiro turno das eleições e de sua campanha?
SIMONE TEBET – O que aconteceu no período eleitoral é exatamente reflexo do que estava acontecendo no Brasil: polarização entre duas correntes chamadas ideológicas, uma disputa pelo poder rasa, em que em nenhum momento o eleitor teve segurança de saber quais eram as propostas e soluções concretas para os problemas do Brasil. Não havia embate entre os principais personagens, que inclusive fugiram do debate.
Nesse aspecto, lamentavelmente a gente viu no período eleitoral o que temos acompanhado ao longo desses três anos e meio: um país dividido, um discurso de ódio raso, contaminado por fake news, muitas vezes de ideias nacionalistas, ora populistas. E o reflexo disso foi que a gente não conseguia ter candidaturas paralelas ou alternativas que pudessem de alguma forma furar a bolha.
Saio extremamente satisfeita com o resultado, porque eu era desconhecida para 70% do eleitorado e saio conhecida por 70%. O fato de ser uma candidatura curta, onde não tive os apoios nos palanques regionais, salvo raríssimas exceções, e em um ambiente polarizado, o medo do pior ganhar a eleição fez com que automaticamente não tivéssemos condições de construir uma alternativa a essa situação de confronto.
- O presidente Bolsonaro sai fortalecido?
S. T. – De todos os erros que cometemos, talvez o mais grave tenha sido cometido pela campanha do candidato Lula quando ele toma para si o pedido de voto útil, que é legítimo —eu faria a mesma coisa—, mas sem entregar para o eleitor um mínimo de segurança do que será esse terceiro mandato. Ele não entregou minimamente através da fala, apenas através de um documento raso, superficial, quais serão as propostas na área de geração de emprego, educação, saúde, seja o que for.
Então diante desse cenário, eu não acho que Bolsonaro saiu fortalecido. Os votos úteis, meus e do Ciro, daquele eleitor menos seguro, acabaram indo para o Bolsonaro, porque o eleitor não se sentiu seguro de garantir a eleição para o Lula no 1º turno, exatamente por essa falta de clareza.
Ele falava muito do passado e dizia “não, eu não preciso fazer promessas”. Então aquele eleitor que não estava muito seguro comigo e com o Ciro, ele fez a opção “pera aí, eu vou votar aqui no Bolsonaro”. Não vejo que Bolsonaro tenha saído fortalecido. O ex-presidente Lula não ganhou no primeiro turno por menos de 2 milhões de votos.
A senhora acha que o PT precisa agora detalhar mais o plano econômico?
S. T. – Fundamental! O erro fatal, a meu ver, que fez com que o candidato Lula não ganhasse no primeiro turno foi a incapacidade de perceber que só faltava um detalhe: o eleitor sabe o que foi o governo do PT, com os seus avanços e com os seus defeitos. Ele sabe o que eles fizeram e o que deixaram de fazer. Mas o eleitor estava esperando da fala [de Lula], não do programa de televisão, mas sim da fala nos debates, nos palanques, uma fala do Brasil do futuro. Quer dizer: qual é o Brasil que o PT está pronto para entregar para o futuro do Brasil a partir de janeiro do ano que vem.
E não é nos detalhes, é na singeleza das propostas. Óbvio, através da pauta econômica, para que rumo, se vem um pouco mais ao centro; não no liberalismo que não faz parte obviamente da visão econômica da esquerda, mas alguma coisa que dê conforto e aproxime. E é possível.
E a partir daí quais são os programas sociais: de que forma resolver o problema da fome, do desemprego, da comida mais barata, porque a classe média está se endividando no supermercado, passando o cartão de crédito para poder comprar comida. E aquilo que [Lula] vai fazer de políticas públicas definitivas. Não é só o Auxílio Brasil, o Auxílio Brasil é necessário, mas eu não posso fazer uma geração inteira, num país tão rico como o Brasil, ficar dependendo eternamente de auxílio do governo federal.
- Como sinalização, Lula deve já anunciar quem vai ser seu ministro da Economia, por exemplo?
S. T. – Não acho que tenha que ser. É complicado você antecipar e depois não poder voltar atrás. Muita coisa muda dentro desse processo eleitoral tão rápido. Escolher antes não é uma boa política. Talvez sinalizar qual é o perfil do futuro economista, que pode não necessariamente ser um economista. O perfil de um próximo ministro da Fazenda [Economia] acho que é uma boa sinalização para tranquilizar a economia brasileira, que pode inclusive já começar dar sinais a partir de dezembro, novembro; sinais positivos, que facilitam depois os juros menores, inflação menor, o início da próxima gestão.
- A senhora segue querendo ser presidente da República e pensa em 2026?
S. T. – Sigo querendo ajudar o Brasil da forma como eu posso. Sou antes de tudo uma professora, uma mulher e uma mãe. Tenho muito mais do que mereço na minha vida. E o que ouvi ao longo dessa minha jornada na campanha não esperava ver mais na minha vida. Vi lamentavelmente em relação a retrocessos civilizatórios e de indicadores sociais, exatamente o que vi no início da minha vida pública na década de 1970: o mesmo mapa da fome, a mesma desigualdade social, a mesma apatia, a mesma falta de perspectiva, um cenário quase que de abandono.
Nesse momento o que estava em jogo era esse acirramento entre as instituições, essa disputa de poder, essa briga. Então a minha missão é ajudar o Brasil, da forma como eu puder ser útil. Não tinha perspectiva de ser candidata à Presidência da República. Estava pronta para voltar para casa, não sabia se disputava mais um mandato.
Agora tenho que obviamente repensar qual é o meu papel como cidadã e como brasileira, nesse momento grave da história, diante do legado que eu tenho. Percebo especialmente [que] com as mulheres brasileiras houve uma aproximação de ideias, elas se sentiram representada de alguma forma com aquilo que eu tinha, com meus desabafos, minha indignação, com as minhas propostas. Então eu sei que eu saio com a responsabilidade de um legado muito mais político do que eleitoral. Acredito que eu tenha plantado boas sementes.
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