O ex-presidente José Sarney, 94, defendeu que seu partido, o MDB, apoie a reeleição de Lula (PT) em 2026. Em entrevista ao jornal O Globo, ele disse que o presidente governa em um tempo difícil, mas reiterou que o petista ainda é popular.
“Acho que o MDB deve apoiar, sim. Entre os candidatos que estão colocados, Lula ainda é o homem que tem a maior popularidade, a maior confiança do povo brasileiro”, disse.
‘Melhor sair bem do que já velho’
Sarney disse que Lula fez excelentes governos. Por outro lado, disse que “é melhor sair muito bem do que já velho” ao responder sobre a possibilidade de o presidente disputar a reeleição.
Só ele pode decidir. Quando deixei de ser candidato, muita gente no Amapá pedia que eu fosse candidato. Achei que não deveria. É melhor sair muito bem do que já velho.
Há tempos em que governamos na abundância, mas há tempos em que governamos na escassez. Lula não está nos governando num tempo de bonança, mas sim num tempo difícil, não só para o Brasil, mas de uma maneira internacional.
Críticas ao Congresso
Para o ex-presidente, o Congresso mudou muito e os partidos hoje não tem lideranças fortes e democracia interna. Ele também defendeu que o país adote o parlamentarismo.
O Congresso mudou muito. Houve uma multiplicação dos partidos sem raízes históricas. Não estou querendo julgar, mas acho que naquele tempo seguíamos líderes partidários, pessoas com grande expressão nacional. Atualmente, há falta de liderança do Congresso.
A pior coisa que os acontecimentos de 1964 produziram foi a extinção dos partidos, que eram uma formação de líderes. Sem partidos políticos fortes, não há democracia forte. A disciplina partidária democrática é aquela que tem democracia interna. E hoje nós verificamos que os partidos não têm democracia interna.
Vejo que o parlamentarismo algum dia chegará no Brasil. Defendo o parlamentarismo mitigado, a exemplo do francês. Com voto distrital misto.
Ameaças à democracia
Sarney disse que a democracia foi ameaçada durante o período de transição entre Bolsonaro e Lula. Ele avalia que as instituições foram fortes nesse período, inclusive as Forças Armadas.
Sim, [a democracia brasileira] viveu muitos riscos. Principalmente durante o período da transição. Houve muitas ameaças de retrocessos. Durante a Constituinte também.
Os fatos do 8 de janeiro foram uma pressão muito grande sobre a democracia. Mas vejo que criamos instituições fortes, capazes de aguentar dois impeachments e também esse episódio.
Foi um fato grave, mas foi mais um momento da nossa democracia em que as Forças Armadas mostraram que elas estão aí para sustentar a Constituição, a democracia, a liberdade. A maioria dos militares foi contra. Aqueles que se meteram eram na maioria da reserva. A democracia prevaleceu.
Uol