A recente declaração do pré-candidato a prefeito de São Bento, Marcos Davi (PP), em que ele culpa os pais pelo autismo de seus filhos e associa a depressão infantil à falta de oração, é mais um triste exemplo do pensamento retrógrado que ainda persiste na política paraibana. Infelizmente, não é a primeira vez que nos deparamos com esse tipo de discurso insensível e desconectado da realidade, e se não enfrentarmos essa retórica com a seriedade que ela exige, corremos o risco de perpetuar uma cultura de ignorância e desrespeito às condições humanas.
As falas de Marcos Davi, proferidas durante uma entrevista à Rádio Piranhas, são alarmantes por vários motivos. Primeiro, ao insinuar que o autismo é causado pelo uso excessivo de celulares e televisão, ele demonstra um total desconhecimento sobre o transtorno do espectro autista (TEA). O autismo é uma condição neurológica complexa que tem origens multifatoriais, envolvendo tanto fatores genéticos quanto ambientais, e a afirmação de que a tecnologia é a causa do autismo é não apenas incorreta, mas perigosa. Tal desinformação pode levar a estigmatizar ainda mais as famílias que já enfrentam desafios significativos no cuidado de seus filhos.
Além disso, ao sugerir que a depressão em crianças é resultado de “falta de oração”, Marcos Davi não só desconsidera a natureza complexa e multifatorial dos transtornos mentais, como também minimiza a importância do tratamento adequado, que muitas vezes envolve uma combinação de apoio psicológico, social e, quando necessário, intervenção médica. Essa visão simplista ignora o sofrimento real das famílias e perpetua um estigma que há muito tempo precisa ser combatido.
Infelizmente, esse tipo de declaração não é novidade. Em julho deste ano, o prefeito de Pombal, Dr. Verissinho, causou revolta ao afirmar que ter filhos com autismo era uma “infelicidade”. Essas falas, além de serem profundamente ofensivas, revelam um traço comum de insensibilidade e despreparo entre certos políticos, que parecem mais interessados em culpar as vítimas do que em buscar soluções informadas e eficazes para os problemas enfrentados por suas comunidades.
O Brasil, em especial a Paraíba, precisa de líderes que compreendam as complexidades do mundo moderno e que estejam dispostos a enfrentar os desafios de saúde pública com base na ciência e no respeito pelos direitos humanos. Não podemos tolerar que candidatos ao poder utilizem suas plataformas para disseminar desinformação e preconceito. A sociedade paraibana merece mais, e é fundamental que a população se mobilize contra esse tipo de discurso, exigindo mais responsabilidade e empatia de seus representantes.
A reação das mães atípicas em São Bento, que prontamente organizaram uma caminhada em protesto às declarações de Marcos Davi, é um sinal claro de que a sociedade não aceitará calada esse tipo de retrocesso. Essa mobilização é não apenas necessária, mas urgente. Precisamos continuar denunciando e combatendo discursos que buscam culpar as vítimas e perpetuar a ignorância, ao invés de promover um debate informado e construtivo sobre temas tão sensíveis e importantes como o autismo e a saúde mental.
É hora de exigir um novo padrão de ética e conhecimento na política paraibana. Não podemos mais aceitar que figuras públicas se escudem em crenças ultrapassadas e insensíveis para justificar sua falta de preparo e compreensão sobre questões essenciais à vida de milhares de paraibanos.
Por: Napoleão Soares