Num cenário internacional de tensões e realinhamentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu, neste fim de semana, um passo considerado gigante na diplomacia brasileira. O encontro com o ex-presidente americano Donald Trump, durante a cúpula da ASEAN, em Kuala Lumpur, recolocou o Brasil na pauta de diálogo direto com Washington — e mostrou, mais uma vez, a habilidade de Lula em transitar entre adversários e preservar pontes.
A reunião, embora breve, teve peso simbólico e político. Foi a primeira conversa direta entre os dois líderes desde a retomada das relações bilaterais sob tensão, após a imposição de tarifas americanas de até 50% sobre produtos brasileiros e o congelamento de alguns canais de cooperação. Lula descreveu o encontro como “ótimo”, e Trump, em tom pragmático, disse ver espaço para “acordos interessantes”.
Mais do que gestos, o movimento de Lula demonstra uma estratégia: recuperar protagonismo e abrir diálogo mesmo com interlocutores de perfis opostos. No momento em que parte do mundo se fecha em blocos e rivalidades, o Brasil tenta se reafirmar como um país capaz de falar com todos — da China aos Estados Unidos, do G20 ao Sul Global.
Ao convidar Washington a retomar tratativas sobre comércio e tarifas, Lula reposiciona o Brasil na mesa de negociação. Ele age com base na ideia de que isolamentos custam caro e que parcerias históricas não devem ser abandonadas por divergências passageiras.
Afinal, Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação diplomática que ultrapassa dois séculos, com ciclos de proximidade e distanciamento. Reaproximar-se agora, num contexto em que a economia global pede cooperação e previsibilidade, é uma aposta política e econômica de alto risco — mas também de alto potencial.
O gesto de Lula, portanto, tem camadas. É pragmático, porque busca aliviar sanções e abrir o mercado americano a produtos brasileiros. É diplomático, porque sinaliza ao mundo que o Brasil está disposto a negociar com todos. E é político, porque mostra um presidente que, mesmo sob críticas internas, mantém a capacidade de diálogo como uma de suas principais marcas.
O passo foi dado. Resta saber até onde ele poderá ir — e se os Estados Unidos, agora sob Trump, estarão dispostos a caminhar na mesma direção.
Por: Napoleão Soares







