“Hoje podemos dizer que temos uma escola de ginástica brasileira”. A declaração de Jade Barbosa, após a conquista do bronze olímpico por equipes nos Jogos de Paris-2024, nesta terça-feira na Bercy Arena, traduz a importância desse pódio para a modalidade. Com Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Julia Soares e Lorrane Oliveira, elas fizeram história ao conquistar o melhor resultado olímpico deste esporte. O Brasil tinha como melhor desempenho nesta prova o oitavo lugar em Pequim-2008 e no Rio-2016. Os Estados Unidos de Simone Biles levaram o ouro com 171.296 pontos, à frente da Itália (165.494) e o Brasil com a pontuação de 164.497.
Aos 33 anos, Jade é o elo entre a geração que começou a colocar o Brasil no mapa mundial da ginástica artística feminina, com as primeiras medalhas em Copas do Mundo e Mundiais de Dayane do Santos e Danielle Hypolito. Mas para ela faltava a medalha olímpica no pescoço. Ela sentiu a frustração ao se machucar em outras edições.
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Agora comemora ver o país como referência no esporte de maneira coletiva — até então o país contava com seis pódios individuais, entre homens e mulheres. O ouro e a prata de Rebeca em Tóquio-2020 foram festejados por todas. Mas fica óbvio no discurso de cada uma das medalhistas que estar lá em cima com o pódio com o time é o sonho de um trabalho realmente realizado.
—Vocês tiveram a oportunidade de ver duas horas do Brasil que foram trabalhadas há mais de 40 anos. Vale muito para gente. O Brasil não era nada dentro desse esporte. Hoje não fizemos a nossa melhor competição. Mas hoje a gente consegue uma medalha sem fazer a nossa melhor competição —concluiu Jade, que evitou bater o martelo sobre a aposentadoria em Los Angeles-2028.
Hoje, o Brasil, definitivamente, entrou no hall das potências do esporte ao lado dos Estados Unidos, China, Rússia, Romênia e Grã-Bretanha, países que subiram ao pódio nessa prova nos últimos 20 anos.
—Uma medalha olímpica por equipes é uma construção de muitas décadas, não acontece em um ciclo olímpico. Desde Tatiana Figueiredo, Soraya Carvalho, Luisa Parente, Daniele Hypólito, Lais Souza, Daiane dos Santos e tantas outras. Isso fez com que o Brasil olhasse para a ginástica. O investimento na ginástica hoje é alto, forte e chegamos aos grandes resultados esportivos e finalmente chegamos nesse patamar. No Brasil, o investimento financeiro só chega depois dos resultados — disse o coordenador da Confederação Brasileira de Ginástica , Henrique Mota.
—O Brasil fez uma competição espetacular e poderia ter feiro mais pontos ainda. Se a medalha veio agora, era para ser. Com este time, esses treinadores e essas ginastas.
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E era para ser com este time. Há 20 anos na seleção permanente, Jade acredita nisso. E todos aos seu redor também. Afinal, ela representa o trabalho de longo prazo bem feito que uma hora dá fruto.
— Quando descobrimos o terceiro (lugar), eu falei: não acredito! A Jade é medalhista olímpica! Tem que respeitar todo o esforço dela. Dentro do ginásio, ela é exemplo. É guerreira, tem esse físico há anos. A gente empurra, briga, mas ela consegue treinar e mostrar para as outras que chegam, mais novas e servir de exemplo — diz Chico Porah, treinador da seleção feminina.
E que a partir de agora continuará dando mais frutos. Independentemente se Jade ou Rebeca estejam lá. As duas principais referências da seleção não falam em adeus definitivo a média prazo. Mas sabem que o tempo está chegando, e o corpo não vai aguentar para sempre. Até lá continuarão representando seus papéis na manutenção desse espaço conquistado pelo Brasil entre os maiores da modalidade.
Enquanto Rebeca Andrade é líder técnica do time brasileiro —foi com seu salto de nota 15.100 que o Brasil virou o jogo e conseguiu ultrapassar a Grã-Bretanha—, Jade, que só competiu no salto na final por equipes, atua como uma espécie de “treinadora dentro do tablado”.
— Jade é como uma mãe para elas. Ela cuida. Hoje de manhã eu a chamei e falei que a Júlia estava nervosa, e elas ficaram conversando. Em Liverpool (no Mundial, em 2022), ela não estava, a equipe estava boa, mas meio separada. No outro ano, a Jade chegou e já vi a diferença – conta. – Essa é uma parte muito importante da Jade: ela juntou a equipe. Vou falar mil vezes que eu agradeço de coração que ela está aqui com 33 anos, e com outra cabeça. Praticamente a gente tem um treinador lá dentro (do tablado).
O Globo