Ao sair da sede da Polícia Federal (PF) em Curitiba no dia 8 de outubro de 2019, há cinco anos, o presidente Lula foi recebido nos braços de apoiadores, entre os quais religiosos, após cumprir 580 dias de prisão.
Nesta sexta-feira (8), Lula relembrou a data com uma cerimônia ecumênica no Palácio do Planalto que reuniu religiosos que o visitaram durante o período de detenção. Ele também divulgou um vídeo da cerimônia e agradeceu companheiros e companheiras pelo apoio.
Obrigado, companheiros e companheiras. Vou carregar para todo o sempre a lembrança do que vocês fizeram. Somos irmãos, amigos, unidos no amor e na fé.
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— Lula (@LulaOficial) November 9, 2024
A celebração foi marcada por cantos, leituras e bênçãos, com a presença de representantes de várias tradições religiosas, cada um trazendo orações e palavras de esperança.
Entre os presentes, estavam membros da Igreja Católica, incluindo Frei Sérgio Antônio Görgen, organizador do evento, que publicou um artigo no Brasil de Fato destacando Lula como um símbolo coletivo das esperanças e lutas do povo brasileiro, especialmente dos mais vulneráveis.
Frei Görgen descreveu o ambiente como de serenidade e força, refletindo a confiança depositada em Lula. “Lula sabe que é um símbolo coletivo vivo – concentra em si as esperanças de milhões – e que sua missão é cuidar”, comentou o frei.
“E cuidar também é um ato coletivo que precisa despertar e fortalecer processos sociais, políticos, e, até espirituais, que se somem, se unam, se fortaleçam, ganhem musculatura política, se transformem em força de povo organizado, para se sobrepor a onda fascista e a sanha de lucro de minorias poderosas – que com suas mídias mentirosas e seus falsos profetas iludem e enganam o povo”, adverte o frei.
A cerimônia também contou com padres e freiras que visitaram Lula durante a prisão. Frei Betto, amigo próximo de Lula, e Leonardo Boff, teólogo e figura proeminente da Teologia da Libertação, estiveram presentes, assim como líderes evangélicos, pastores de igrejas pentecostais, e representantes da Igreja Luterana e Batista.
A comunidade muçulmana foi representada por imãs que reafirmaram a importância do diálogo e da paz, enquanto líderes judaicos trouxeram mensagens de justiça e igualdade. Representantes de religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda, participaram com cânticos de resistência e fé. Também presentes, membros do espiritismo destacaram a mensagem de reconciliação.
Ao final, Lula agradeceu a todos pelo apoio espiritual durante os dias de prisão, ressaltando a importância da fé e da solidariedade como fontes de força. A cerimônia reafirmou a pluralidade religiosa e a união de diferentes crenças em torno de ideais de justiça e paz, valores que têm guiado a trajetória de Lula.
580 dias de prisão
Ao sair da sede da Polícia Federal em Curitiba, há cinco anos, o presidente Lula foi recebido nos braços de apoiadores após cumprir 580 dias de prisão. Em discurso ainda na capital paranaense, ele criticou o que chamou de “lado podre da Justiça” e a “farsa” da Operação Lava Jato.
A “República de Curitiba” fez de tudo para criminalizar a esquerda e o Partido dos Trabalhadores (PT), impedindo a candidatura de Lula em 2018 e afetando setores estratégicos da economia em articulação com o Departamento de Justiça dos EUA. Lula classificou o episódio foi um ataque à soberania nacional e defendeu punições aos envolvidos.
O processo que culminou na liberdade de Lula ocorreu após o Supremo Tribunal Federal (STF) declarar a suspeição do ex-juiz Sergio Moro devido à sua atuação política e fraudes processuais, resultando no fim da Lava Jato em 2021.
Durante a cerimônia, Lula destacou o apoio constante da militância na Vigília Lula Livre, organizada em frente à PF, onde recebia diariamente cumprimentos de “bom dia, Lula,” “boa tarde, Lula,” e “boa noite, Lula.”
“Vocês não têm noção do que representaram para mim,” afirmou, ressaltando o fortalecimento que recebeu das vozes de apoio.
De volta para o Lula 3
Após ser libertado, Lula foi saudado por uma multidão em São Bernardo do Campo e retomou o diálogo com setores da sociedade, preparando-se para enfrentar Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.
Eleito presidente pela terceira vez, Lula assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2023, em uma das maiores celebrações populares da história democrática do Brasil.
Desde então, o país vive uma fase de transformações sociais e econômicas, com redução recorde do desemprego, avanço nos direitos sociais de grupos historicamente oprimidos, como mulheres, negros e povos indígenas, e queda dos índices de pobreza e fome.
Lula também priorizou a recuperação da posição do Brasil no cenário internacional, consolidando um governo focado no bem-estar da população.
Luta continua
No quinto ano de Lula Livre e no segundo de seu terceiro governo, o presidente enfrenta um dilema ao adiar decisões sobre cortes profundos no orçamento para atender às metas do arcabouço fiscal, em meio a intensas pressões do mercado financeiro e de sua equipe econômica.
O cenário de desafios pela frente inclui a vitória da direita nas eleições municipais e o fortalecimento de forças conservadoras e de extrema direita no exterior, como a reeleição de Donald Trump, o que pressiona ainda mais o governo.
O cumprimento das metas fiscais, embora mantenha as contas equilibradas, pode ter um alto custo político, com a erosão de direitos sociais e riscos para a popularidade do governo em 2026.
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