As cerimônias fúnebres do presidente iraniano Ebrahim Raisi começaram nesta terça-feira (21) após sua morte em um acidente de helicóptero, enquanto as autoridades investigam o que causou a queda da aeronave na encosta de uma montanha remota na manhã de domingo (19).
A morte de Raisi, juntamente com outros altos funcionários, incluindo o ministro das relações exteriores do país, deixou o establishment linha-dura da república islâmica perante um futuro incerto, à medida que navega pelas crescentes tensões regionais e pelo descontentamento interno.
O governo do Irã organizou vários dias de luto, culminando com um funeral no final desta semana para o clérigo ultraconservador de 63 anos que já foi visto como um potencial sucessor do atual líder supremo, Aiatolá Khamenei.
A terça-feira começou com orações fúnebres e uma procissão na cidade de Tabriz, no noroeste do país, a maior cidade da região montanhosa do noroeste do Irã onde o helicóptero caiu, de acordo com Mohsen Mansouri, chefe do comitê de planejamento funerário e vice-presidente de assuntos executivos do Irã.
A programação ainda incluiu a transferência dos corpos das vítimas para a cidade sagrada xiita de Qom, onde são treinados muitos dos clérigos que compõem a elite teocrática do Irã, antes de seguirem para a capital Teerã.
As maiores cerimônias estão programadas para a mesquita Grande Mosallah, em Teerã, na quarta-feira (22). Mansouri anunciou feriado e o fechamento de escritórios em todo o país na data para que as procissões possam acontecer.
O corpo de Raisi será então transferido para o histórico santuário Imam Reza em Mashhad, onde o Aiatolá Khamenei conduzirá orações, de acordo com o Mehr News.
Não há nenhuma indicação do que poderá ter causado o acidente – e por que razão tantos altos funcionários do governo iraniano viajavam num único helicóptero com décadas de existência.
Nos primeiros momentos após o helicóptero de Raisi ter perdido contato na noite de domingo (19), a Turquia disse que monitorou se a aeronave deu ou não um “sinal”, mas não conseguiu detectar nada.
“Entramos imediatamente em contato com o lado iraniano. Eles também nos contataram, mas infelizmente foi constatado que o sistema de sinalização estava desligado ou o helicóptero não tinha o sistema de sinalização”, disse o ministro turco dos Transportes e Infraestrutura, Abdulkadir Uraloglu, segundo a emissora estatal turca TRT.
Não ficou claro se ele estava se referindo ao transponder do helicóptero, com o qual a grande maioria das aeronaves normalmente está equipada.
Quando questionado se havia possibilidade de sabotagem, Uraloglu disse que era muito cedo para comentar esta questão e disse que as indicações iniciais pareciam ser um acidente devido ao nevoeiro.
Na segunda-feira (20), a mídia iraniana informou que o chefe militar do país nomeou uma comissão para investigar a causa do acidente, que inclui especialistas militares e técnicos.
Uma delegação de alto escalão irá ao local do acidente, de acordo com a agência de notícias iraniana Tasnim.
Parceiros autocráticos saúdam um ‘amigo’ perdido
A perda de Raisi – um conservador de linha dura e protegido pelo aiatolá Khamenei – deverá semear ainda mais incerteza num país que já se debate sob uma pressão econômica e política significativa, com as tensões com o vizinho Israel chegando a um nível perigoso.
A sua morte desencadeou reações nacionais e internacionais – com vários parceiros autocráticos do Irã prestando condolências e elogios efusivos. O presidente russo, Vladimir Putin, o líder chinês Xi Jinping e o norte-coreano Kim Jong-Un divulgaram declarações elogiando o legado de Raisi e saudando-o como um “amigo”.
Na sua mensagem, Kim descreveu Raisi como “um estadista notável e um amigo próximo do povo (norte-coreano)”, acrescentando que o líder “deu uma grande contribuição à causa do povo iraniano para salvaguardar a soberania, o desenvolvimento e os interesses de seu país”, segundo a mídia estatal norte-coreana KCNA.
Xi, cujo governo no ano passado desempenhou um papel na intermediação de uma aproximação histórica entre o Irã e a Arábia Saudita, saudou as “importantes contribuições de Raisi para manter a segurança e a estabilidade do Irã e promover o desenvolvimento e a prosperidade nacionais”.
“A trágica morte de Raisi é uma grande perda para o povo iraniano, e o povo chinês também perdeu um bom amigo”, disse Xi num comunicado divulgado pela mídia estatal chinesa, acrescentando que os dois países continuarão “consolidando e aprofundando” a sua parceria estratégica.
Putin, que os EUA acreditam estar recebendo apoio do Irã para a sua guerra na Ucrânia, chamou o líder iraniano de “político notável” e de “verdadeiro amigo da Rússia”. Raisi deu “uma contribuição pessoal inestimável” para o desenvolvimento das relações entre os países, afirma o comunicado de Putin divulgado pelo Kremlin.
Os comentários surgem num momento em que os observadores apontaram para uma coordenação de interesses frouxa mas crescente entre o Irã, a China, a Coreia do Norte e a Rússia devido à animosidade partilhada em relação a um sistema global que consideram dominado pelos EUA e pelos seus valores.
No Irã, onde grande parte da inquieta população jovem do país se cansou do governo de clérigos conservadores, Raisi deixou um legado muito mais polarizador.
Ele era amplamente visto como uma figura na qual o establishment linha-dura iraniano tinha investido fortemente. Mas também reprimiu brutalmente uma revolta liderada por jovens sobre leis repressivas, como o hijab obrigatório, e continuou a reprimir possívei dissidêntes que continuaram atuando após a onda de protestos
CNN