Com toda a sua potência em matéria-prima, turismo, serviços, fontes de energia renovável, tecnologia e cultura, o Nordeste já não precisaria mais se defender. A região que mais cresce economicamente no Brasil, que lidera em inovação social e que desponta em áreas estratégicas para o futuro do planeta, deveria estar além de justificativas. Mas, infelizmente, o Brasil ainda produz figuras como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que insiste em reverberar um discurso caduco, ultrapassado e discriminatório: a falácia de que o Sul e o Sudeste “carregam o Nordeste nas costas”.
Contra esse tipo de visão distorcida, a resposta de Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba, é necessária e certeira. O discurso feito na tribuna da ALPB, nesta quarta-feira (3), mostra que diante de preconceitos estruturais é preciso reagir com firmeza. Como a mordida de um cão raivoso exige vacina, o preconceito de Zema requer a contundência de vozes como a de Galdino.
O governador mineiro, em suas falas, repete um estigma que deveria estar sepultado desde o século passado. Ao afirmar que “chega de sustentar quem precisa por tempo indeterminado”, ele ignora não só dados econômicos, mas também a realidade histórica do Brasil. Foi justamente o Nordeste, com sua mão de obra, seus recursos e sua cultura, que sustentou durante séculos o desenvolvimento nacional, muitas vezes à custa da própria exploração. Hoje, é também no Nordeste que se encontram alguns dos mais vibrantes polos de crescimento econômico, com PIB acima da média nacional, como apontam estudos recentes.
Como bem lembrou Galdino, os maiores financiamentos, os projetos de maior vulto, as isenções bilionárias e até o maior número de inscritos no Bolsa Família estão concentrados nos estados do Sul e Sudeste. A realidade que os números mostram desmonta a retórica de Zema: é o Nordeste que continua precisando lutar para receber uma fatia mais justa do bolo nacional fermentado em Brasília.
Não se trata de antagonizar regiões, mas de corrigir distorções históricas. É uma luta que vai além dos Zemas. Uma luta por reconhecimento, equidade e reparação. O discurso de Galdino, ainda que feito num espaço segmentado, deveria ser ecoado nas escolas, nas universidades, nos sindicatos, nas redes sociais e, sobretudo, nas falas de governadores e lideranças do Consórcio Nordeste.
O que está em jogo não é apenas orgulho regional, mas a afirmação de que o Brasil só é inteiro quando reconhece a contribuição de todas as suas partes. O Nordeste não é um peso: é força, é futuro, é o Brasil que dá certo.
Por isso, recomendo que cada governador, empresário, turista, artista ou trabalhador nordestino leve sempre consigo uma dose de Galdino para neutralizar, toda vez que necessário, o veneno dos Zemas.
Por: Napoleão Soares







